São Paulo, sábado, 3 de agosto de 1996
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TERROR

Pode-se dizer que a diplomacia é a continuação da guerra por meios pacíficos. O terrorismo, entretanto, cria uma realidade que é mais difícil de definir. Não chega a ser uma guerra, mas afasta de cada indivíduo a possibilidade de viver em paz.
O terror é a própria negação de qualquer possibilidade de negociação e, assim, não se encaixa no contínuo entre guerra e paz onde se situam a diplomacia, a guerra civil ou a guerrilha. O terror não conduz a qualquer forma de compromisso, é a negação do conceito de responsabilidade e conduz sobretudo à desorganização pela desorganização.
Essa condição paradoxal do terror fica ainda mais patente quando um Estado trata de combater grupos terroristas. Há uma desproporção, um desequilíbrio entre Estado e terror que dificulta até mesmo a definição de um "campo de batalha". No limite, um Estado que se propusesse a levar às últimas consequências o combate ao terror teria de colocar em prática um aparato de segurança e vigilância tão brutal que se converteria ele mesmo em agente do terror.
Afinal, o terrorista pode ser um "unabomber" qualquer, um desequilibrado pronto a emergir de uma choupana no meio do nada, ou uma organização religiosa, como a seita japonesa que lançou gases venenosos no metrô de Tóquio, camuflada na própria religiosidade extrema.
Poderia ser, como sugeriram investigadores dos EUA no episódio da bomba em Atlanta, até um policial ou agente de segurança obcecado com a possibilidade de se tornar um herói. Mas seria também possível um terror não apenas sem objetivos, como também invisível e irrefreável, usando armas químicas e bactérias.
Tais dificuldades são hoje evidentes tanto na Espanha, onde se está tentando montar um aparato de vigilância dos bascos que pode cercear a liberdade, quanto nos EUA, onde a busca obsessiva por sinais de bomba no TWA acidentado diz menos das causas efetivas da tragédia e mais da angústia contra um terrorismo virtual e hipoteticamente permanente.
Talvez seja este o objetivo maior de todo terrorista: sabendo-se em última análise incapaz de destruir o mundo, ficaria satisfeito se pudesse ao menos instalar o terror em cada um de nós. É justamente por aí que devemos começar a reagir.

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