São Paulo, quarta-feira, 7 de agosto de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Doenças reduzem a produção de soja

GISELE RIBEIRO
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Quando iniciar o plantio da soja, entre setembro e novembro próximos, o produtor brasileiro terá mais uma doença com que se preocupar.
Além do nematóide do cisto, que está presente em 1 milhão de ha e já provocou perdas de US$ 150 milhões desde 92, a podridão vermelha da soja, transmitida pelo fungo de solo Fusarium solani, começa a causar sérios prejuízos às lavouras.
Responsável pela perda de US$ 19,7 milhões na safra 95/96, a doença foi apresentada por pesquisadores durante congresso de soja realizado na semana passada em Uberlândia (MG).
"A podridão vermelha já existia, mas só agora está tomando grandes proporções", diz o pesquisador Ademir de Assis Henning, 46, do Centro Nacional de Pesquisa de Soja (CNPSo), da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa).
Foram registrados focos da doença em lavouras de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Paraná e Santa Catarina.
Segundo o CNPSo, ainda não existem estudos precisos sobre a podridão vermelha.
"Estamos pesquisando medidas de controle e cultivares resistentes", afirma Henning.
As principais doenças que atacam as lavouras são nematóide do cisto, cancro da haste, podridão parda da haste e antracnose.
Na safra passada, essas doenças provocaram prejuízos de US$ 100 milhões. Só o nematóide da soja foi responsável por perdas da ordem de US$ 32,4 milhões.
O nematóide do cisto está presente em cerca de 10% da área plantada de soja no país, com maior incidência em Minas Gerais.
A doença é transmitida pelo verme Heterodera glycines, que se instala nas raízes das plantas e se alimenta de seus nutrientes.
O produtor pode detectar o nematóide pelos seus sintomas: folhas amarelas, plantas pequenas, reboleiras e pontos brancos na raiz.
A disseminação se dá por meio de máquinas, chuvas e pássaros. Uma vez na lavoura, não há como combater o nematóide do cisto.
"O que existe são medidas de controle para evitar sua disseminação", diz Paulo Roberto Galerani, do CNPSo.
Os pesquisadores recomendam que o produtor faça rotação de cultura na área afetada.
Como os cistos permanecem no solo mesmo após a colheita (eles resistem até oito anos), o agricultor deve iniciar o plantio pelas áreas saudáveis, partindo depois para as áreas afetadas.
Outra recomendação é que as máquinas utilizadas nas áreas doentes sejam lavadas antes de ser usadas nos campos saudáveis.
"No ano que vem vamos lançar uma variedade resistente para a raça três do nematóide do cisto", diz Galerani.
Existem 16 raças de nematóide do cisto, mas apenas quatro foram registradas no Brasil.
Outra doença que traz grandes prejuízos ao produtor é o cancro da haste, transmitida pelo fungo Diaporthe phaseolorum f. sp. meridionalis e presente em todas as lavouras do país.
A doença ataca no começo do plantio (durante o período de germinação) e mata a planta um pouco antes da colheita, podendo provocar entre 70% e 80% de quebra.
O cancro se instala na haste da planta, interrompendo o fluxo de nutrientes.
Como consequência, há o surgimento de manchas pardas alongadas na haste e o escurecimento do córtex, do lenho e da medula.
A semente é a maior fonte de disseminação da doença. O produtor deve optar por variedades resistentes e pela rotação de cultura.
A antracnose, transmitida pelo fungo Colletotrichum dematium var. truncata, foi encontrada em lavouras do Centro-Oeste e não tem causado grandes prejuízos.
O clima com temperaturas elevadas e altos índices de umidade no solo favorece o aparecimento da doença, que se espalha por meio de sementes contaminadas, pela chuva e pelo vento.
O fungo ataca a planta e depois vai para a semente. Seus sintomas são vagens secas, manchas escuras alongadas na haste e pontos negros no córtex.
Uma vez instalada, não há como combater a doença, que pode causar até 100% de quebra da safra.
Segundo o CNPSo não existem variedades resistentes para a antracnose, mas o produtor pode adotar medidas preventivas.
Recomenda-se o tratamento das sementes com uma mistura dos fungicidas sistêmico e de contato, a adubação correta do solo e a redução de sementes por hectare.
Transmitida pelo fungo Phialophora gregata, a podridão parda da haste foi registrada em lavouras do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina, mas está sob controle, segundo os pesquisadores.

Onde saber mais - Tel. (043) 371-6100

Texto Anterior: Nova safra divide as opiniões de analistas
Próximo Texto: Potros de corrida atingem R$ 20 mil no Jóquei Clube
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.