São Paulo, quarta-feira, 7 de agosto de 1996
Próximo Texto | Índice

Abertura custa 390 mil vagas em 1 ano

CELSO PINTO
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

O custo da abertura comercial brasileira em termos de perdas de emprego e de produção industrial foi irrisório até 1994. Entre 87 e 94 foram perdidos 100 mil postos.
No ano passado, contudo, deu um enorme salto: deixaram de ser criados 390 mil, o que coloca dúvidas sobre o futuro.
As conclusões fazem parte de um estudo feito por Ricardo Paes de Barros, economista do Ipea, instituto de pesquisa ligado à Secretaria do Planejamento, discutido ontem na reunião da Sociedade Econométrica, no Rio.
A abertura comercial coincidiu com um período de recessão econômica e forte perda de empregos no setor industrial.
Entre 87 e 94 desapareceu um milhão de postos de trabalho no setor industrial.
Desse total, apenas 100 mil postos perdidos podem ser atribuídos ao impacto da importação. Isso porque, durante esse período, subiram as importações de manufaturados, mas também as exportações.
Demanda menor
Em parte, a perda de produção e de emprego industriais veio da retração na demanda interna.
Em outra medida, veio de ganhos de produtividade no setor, ou seja, da capacidade de as empresas produzirem mais com menos mão-de-obra. É evidente que parte do ganho de produtividade foi gerado pela competição externa, mas é impossível medir exatamente em que proporção.
Em 85, as exportações de manufaturados equivaliam a 9,9% do produto industrial. Depois da abertura comercial externa, as exportações subiram para 14,8% do produto industrial em 95.
As importações também subiram, mais rapidamente, de 3,3% para 10,6%. O efeito de deslocamento de produção interna em função da importação de manufaturados, contudo, foi muito pequeno quando considerada a dimensão da redução de tarifas.
Os dados do ano passado, contudo, são preocupantes. Nos cálculos de Barros, só em 95 a indústria nacional deixou de criar 390 mil postos de trabalho em função das importações.
Ou seja, em um ano, perdeu-se quatro vezes mais empregos na indústria do que durante todo o período anterior de abertura comercial.
Ano atípico
Alguns fatores foram excepcionais em 95. Houve superaquecimento da demanda, com o fim da inflação, e a produção interna não conseguiu atender.
Houve, também, uma estocagem extra de produtos importados, ou por receio de mudanças de regras, ou porque a retração na economia no segundo semestre não foi prevista corretamente.
Só os próximos anos dirão o quanto houve de excepcional no ano de 95. O fato é que o tamanho do impacto talvez ajude a explicar por que aumentou tanto a oposição recente à abertura comercial.

Próximo Texto: Mais de 100 mil vagas são fechadas em 96
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.