São Paulo, quarta-feira, 7 de agosto de 1996
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Thomas traz seu 'Quartett'

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Quartett", peça escrita em 1980 pelo dramaturgo alemão Heiner Muller (1929-1995) e exibida pela primeira vez em 1982, terá a partir de amanhã a sua terceira montagem em palcos brasileiros.
Com Ney Latorraca e Edilson Botelho, o texto, tradução de Millôr Fernandes, será dirigido pela segunda vez por Gerald Thomas, também responsável pela primeira montagem no Brasil, em 86, com Tônia Carrero e Sérgio Britto.
A nova montagem marca a reinauguração do Teatro Caetano de Campos, na Praça da República (região central de São Paulo).
Concebido a partir do romance "As Ligações Perigosas" (Les Liaisons Dangereuses, 1782), de Choderlos de Laclos, o texto de Muller põe em cena o enredado jogo de sedução, depravação, amor e ódio vivido pela marquesa de Merteuil e o visconde de Valmont.
Além deles, entram em cena a sobrinha virgem da marquesa, Cécile de Volanges, e madame de Tourvel, interpretada por Michelle Pfeiffer em 1988, no filme que popularizou o romance de Laclos.
Que ninguém espere, no entanto, algo que lembre o filme de Stephen Frears. Na peça de Muller, o cinismo dos aristocratas em fim de linha se transforma em desespero, ganha uma atmosfera asfixiante.
A ação agora se passa depois da Terceira Guerra Mundial. Ney Latorraca e Edilson Botelho protagonizam os dois únicos sobreviventes de uma catástrofe nuclear.
Estão num ambiente carregado e sombrio, misto de câmara frigorífica e açougue, vestidos como açougueiros imundos, manchados de sangue. Manipulam facões.
No centro do palco está uma enorme mesa de madeira, rodeada por paredes de azulejo branco borradas de sangue, onde se vêem correntes de ferro penduradas.
Ao fundo, enormes peças de carne presas em ganchos parecem boiar no ar. Tudo aponta para o fato de que o jogo da sedução entre os personagens foi reduzido ao grau zero, à mera fisiologia.

LEIA MAIS sobre a peça à pág. 4-3

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