São Paulo, domingo, 11 de agosto de 1996
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Opostos se encontram no horário político

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Se a legislação eleitoral não permitisse mostrar a sigla da agremiação no horário eleitoral, seria quase impossível para o eleitor identificar o partido a que pertence cada candidato. Especialmente na sucessão paulistana.
As agendas dos prefeituráveis se equivalem, suas propostas para cada problema da cidade são semelhantes, o formato dos programas de TV -com maior ou menor competência- têm a mesma fonte de inspiração.
Diluídos na tela da TV, os opostos se encontram. Luiza Erundina abrandou a tradição combativa do PT e trocou o vermelho pelo cor-de-rosa. Paulo Maluf deixou os viadutos em segundo plano para enfatizar a agenda social.
"Todos os candidatos trabalham com pesquisas de opinião e usam os mesmos recursos", diz Lu Fernandes, coordenadora-geral de comunicação da campanha de Serra. "O que dá credibilidade às propostas é o currículo do candidato", acredita.
"Os programas são um pouco água com açúcar. Se diz o que o eleitor quer ouvir", diz Delfim Netto, presidente da seção paulista do PPB de Maluf. "Mas o programa do Pitta está melhor do que os outros", aposta.
As pesquisas mostram que os eleitores querem soluções para segurança, desemprego, trânsito, saúde, educação e habitação.
"Não houve a nacionalização da eleição que se previa quando o Serra entrou na disputa. O eleitor quer saber como o candidato vai resolver os problemas locais", argumenta Lu Fernandes.
Nas produtoras de vídeo onde são gravados os programas, ou até em endereços secretos, as assessorias de cada candidato organizam grupos de pessoas, escolhidas segundo sua classe social e nível de escolaridade, para assistir ao horário eleitoral.
Os resultados das discussões de cada grupo são usados para tirar partes do programa que foram mal recebidas, manter as que foram bem avaliadas e até copiar coisas dos adversários que tiveram alto grau de aprovação.
Para completar, os comitês ainda dispõem de pesquisas diárias por telefone e dos "view facts". São aparelhos com dois botões, um positivo e um negativo, que as pessoas vão apertando à medida que gostam ou não do que o candidato fala na TV.
O resultado de todo esse aparato técnico são dois "palavrões": a homogeneização dos programas de TV e a despolitização dos discursos.
"Os outros candidatos estão se aproximando muito das nossas propostas. Há um oportunismo eleitoral que descaracteriza o debate político", critica Aloizio Mercadante, candidato a vice de Erundina.
"O Pitta está assumindo a idéia do bilhete único de ônibus e da renda mínima -dois projetos que são do PT há quatro anos. A proposta de pólos de desenvolvimento econômico que o Serra incorporou agora nós lançamos há um ano", afirma.
Já os malufistas argumentam que todos os outros candidatos adotaram o PAS depois que o novo sistema de saúde foi bem avaliado nas pesquisas de opinião.
Mais do que nunca, o meio é a mensagem. "O que importa é a eficácia do que se transmite. Campanha é exaltação, a avaliação objetiva fica para os adversários", ironiza Delfim Netto.

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