São Paulo, domingo, 11 de agosto de 1996 |
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Filhos colocam detetive na caça aos pais
BETINA BERNARDES
Mas a maioria das histórias não descamba para a comédia como nos filmes "Poderosa Afrodite", de Woody Allen, ou "Procurando Encrenca", em cartaz no país. O fotógrafo Marcelo Neves passou 26 dos 27 anos de sua vida "caçando" o pai. "Meus pais se separaram quando minha mãe estava grávida; ele não sabia se eu tinha nascido ou não", conta. Marcelo só conhecia o pai por foto. Na adolescência, aumentou a curiosidade sobre a figura paterna. "Queria saber quem ele era, onde morava, como vivia, mas não tinha como encontrá-lo." O fotógrafo tentou saber com familiares o paradeiro do pai. "Perguntava e não dava em nada." A única informação concreta de que Marcelo dispunha era o nome completo do pai, Nelson Perrone. "Eu não tinha meios de localizá-lo só com isso. Depois de adulto, resolvi procurar um detetive." A decisão foi tomada em julho do ano passado. Neves passou ao investigador particular Elias Almeida, 30, tudo o que tinha conseguido saber. "Minha mãe só contou que ele era músico e boêmio." Foram dois meses de buscas. "Consegui localizar o pai do Marcelo pelos números do documento e pelo Imposto de Renda", conta. Almeida descobriu por intermédio do IR o último endereço onde Perrone havia morado: Jacarepaguá, zona oeste do Rio de Janeiro. "Investiguei com vizinhos onde ele poderia estar e cheguei ao endereço do bar onde ele tocava com uma banda", conta Almeida. Acompanhado do detetive, Neves foi assistir a uma apresentação do conjunto no bar. Perguntaram ao garçom quem era Nelson. "Ele apontou e já fiquei nervoso", diz Neves. Os dois pediram ao garçom que, no fim do show, ele chamasse Nelson até a mesa. "Meu pai sentou e a gente começou a conversar. Quando eu falei o nome da minha mãe, ele começou a chorar e aí foi uma emoção só." "O bar virou uma festa", conta Almeida. Todos queriam comemorar o reencontro. "Descobri que, além das entradas de calvície, herdei dele uma certa boêmia", diz o filho. Neves ficou uma semana no Rio com o pai. Depois, os dois passaram a se ver frequentemente. "Nos encontrávamos de 15 em 15 em dias, porque eu morava em São Paulo e ele, no Rio", diz Neves. Em fevereiro deste ano, Nelson Perrone morreu, aos 44 anos, em um acidente de carro. "Foi ótimo conhecê-lo. Achava que a afeição, a história de pai e filho, seria diferente, mas nos tornamos bons amigos." Texto Anterior: Faltam remédios para doentes de esclerose; Pesquisa vai avaliar ação do campo elétrico; Médicos combatem o suicídio assistido; Curso vai orientar os familiares de idosos; Simpósio em São Paulo debaterá a depressão; Saúde pública terá congresso no México; Ataque cardíaco pode interferir na memória Próximo Texto: Pai segue pistas para redescobrir filhos Índice |
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