São Paulo, domingo, 11 de agosto de 1996
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A vantagem de ser cobrado

LUÍS NASSIF
A VANTAGEM DE SER COBRADO

É provável que o governo não tenha divulgado seu plano de investimentos pensando no marketing político.
Se pensou, não colou.
Qualquer observador sabe que não há novos investimentos programados, mas uma compilação de projetos em andamento.
Mesmo assim, esses apanhados são fundamentais por algumas razões.
Primeiro, para fixar claramente as prioridades de governo em todos os níveis da administração e do Congresso.
Segundo, para passar à opinião pública noção de conjunto, permitindo antever o desenho final de país que se busca.
Mas, acima de tudo, tem a utilidade de amarrar governo e Congresso a compromissos explícitos, coordenando esforços e subordinando-os de maneira transparente à cobrança da opinião pública.
É evidente que uma política de plena informação traz riscos. Daqui a dois anos, o governo até poderá cumprir 90% de suas metas. Mas será cobrado pelos 10% que não foram completados.
Mesmo assim, essa exposição de intenções é a maneira mais moderna de instituir as pressões externas, que acabarão por proporcionar a pressão necessária para alcançar os resultados fixados.
Para tanto, há que se dotar esse documento de aprimoramentos. A saber:
1) As metas precisam ficar acompanhadas de cronogramas de implantação.
E a cada período, bi ou trimestral, as autoridades deverão vir a público prestar contas de seus atos e mostrar o percentual do prometido que tenha sido cumprido ou não.
Há a vantagem de impedir que atrasos se acumulem. Se atrasou num período, tenta-se recuperar no período seguinte.
Com esses balanços periódicos, a opinião pública não perde o fio da meada.
Ganhará confiança no trabalho realizado e visualizará de maneira muito mais nítida os objetivos finais a serem alcançados.
Na Venezuela, por exemplo, o governo presta contas de suas realizações trimestralmente.
Imprime folhetos de quatro ou seis páginas, nos quais relaciona didaticamente todos os avanços obtidos no período -seja na área do Executivo ou do Congresso.
Curiosamente, o governo venezuelano passou a empregar essa política aconselhado pelos economistas brasileiros Pérsio Arida e Edmar Bacha, quando estiveram por lá, após a eclosão da crise bancária.
A intenção era derrubar o muro de incompreensão que marcou as reformas políticas do governo anterior, de Carlos Andrés Perez, e que levou a população a bloquear as reformas.
2) Não basta o objetivo final. É necessário explicitar os passos intermediários.
Para alcançar as metas de investimento privado, há a necessidade de alterações na estrutura do mercado de capitais, na Lei das Sociedades Anônimas, além do cumprimento de prazos para a privatização.
Metas vagas não transmitem segurança e não comprometem as partes envolvidas com o todo.
3) A médio prazo todos estaremos salvos. Mas há a necessidade de criar a esperança no curto prazo.
Não se duvida mais de que o modelo de capitalização das empresas brasileiras será por meio do mercado de capitais.
Há um sem-número de iniciativas nessa direção, dos Fundos Comunitários de Investimentos do Paraná aos Fundos de Participação de Santa Catarina.
A reorganização da poupança é a parte mais importante no processo de reestruturação pelo qual passa a economia.
A libertação efetiva de dois séculos de dominação espúria do centralismo político sobre a economia se dará no dia em que qualquer médio empresário, de qualquer canto do país, não precisar mais beijar a mão do deputado da região para ter acesso a capitais de investimento e de longo prazo.
Poetas
Os 50 anos do poeta e compositor popular Aldir Blanc devem ser festejados com bandas e rojões. Noel, Orestes, Vinícius, Bandeira e especialmente o imenso Luiz Peixoto têm em Blanc o continuador.

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