São Paulo, domingo, 11 de agosto de 1996
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Zagallo, ganhador

JUCA KFOURI

"Ganhar é fácil, difícil é ser um vencedor." A frase é da medalha de ouro Jacqueline, e vou tomá-la emprestada para defender uma tese.
Retomo o tema Zagallo. Chegou a bicampeão mundial pelo Brasil, como um aplicado jogador.
Campeão mundial em 1970 como técnico da seleção, campeão da Minicopa em 1972, campeão mundial novamente em 1994, como coordenador.
Examinemos, porém, suas principais conquistas à luz rigorosa dos fatos.
Zagallo era reserva do ponta santista Pepe até o último amistoso da seleção em 1958, a uma semana da estréia. Pepe se machucou. E Zagallo o substituiu.
Quatro anos depois a história se repetiu. Pepe se machucou no penúltimo amistoso, 18 dias antes da estréia, e Zagallo foi o titular.
Depois, Zagallo virou técnico e, dois meses e meio antes da estréia brasileira na Copa de 1970, assumiu a seleção montada por João Saldanha. O primeiro a ser convidado para o posto de Saldanha foi Dino Sani, que não quis.
Dois anos depois foi realizada a Minicopa no Brasil, sem a presença das principais forças européias, e a seleção brasileira venceu jogando mal, já sem Pelé, mas com a mesma base de 1970.
Aí, veio a Copa-74, quando a Holanda "surpreendeu" o time montado exclusivamente por Zagallo. Surpreendeu, embora o futebol holandês fosse tetracampeão de clubes na Europa- Feyenoord em 1970 (campeão mundial também), Ajax em 1971/72 (mundial também) e 1973.
Zagallo perdeu, deu adeus à seleção, foi um ácido comentarista de TV na Copa-86 e voltou quase 20 anos depois como coordenador da seleção de Parreira. Era, por assim dizer, um bom relações-públicas do treinador, uma espécie de pelego entre os jornalistas e o técnico que convocou.
Ao reassumir a seleção como técnico, Zagallo ganhou bem alguns amistosos contra equipes menos preparadas, enganou muita gente -inclusive a mim- com um discurso moderno, classificou o Brasil para a Olimpíada sabe Deus com que sofrimento e perdeu a Copa América, a Copa Ouro e a própria Olimpíada.
Zagallo não é bom técnico. Seu último trabalho antes de voltar à CBF foi no Vasco, seis anos atrás, quando disputou 26 jogos, empatou 12, perdeu 8 e ganhou 6.
Ele é ganhador, sem dúvida, homem de boa sorte (que continue a sê-lo) e arrogante demais para ser um vencedor.

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