São Paulo, domingo, 11 de agosto de 1996
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Detran atrasa processos em até 30 dias

MARCELO TADEU LIA
DA REPORTAGEM LOCAL

Filas intermináveis, muita burocracia, atrasos de até 30 dias na entrega de documentos, denúncias de corrupção e até de sabotagem.
Em São Paulo, o Detran (Departamento Estadual de Trânsito) se transformou em um inferno para quase todos seus usuários.
"Há problemas, mas estamos pagando pela moralização do órgão", diz Enos Beolchi Jr., 69, diretor do Detran (leia texto ao lado).
Os atrasos para entrega dos processos (licenciamento, emplacamento etc.), em alguns casos, podem variar entre 20 e 30 dias -em média, o prazo deveria ser de dois a cinco dias úteis.
Ataque de nervos
Grande parte dos usuários perde logo a paciência com a lista de documentos a entregar e as constantes filas. "Esperava ser melhor atendida e não ter que enfrentar tanta burocracia", disse a arquiteta Marcia Albuquerque, 31, após ficar 15 minutos na fila do setor de informações.
A consultora de recursos humanos Elizabete Almeida Otero, 35, comprou um Voyage GL 92 em junho e, desde então, tenta transferir a documentação para seu nome.
"Procurei um despachante e tomei um susto com o preço do serviço: R$ 170. Resolvi tentar fazer tudo sozinha."
Depois de enfrentar "todas as filas possíveis" e pagar as taxas (R$ 57,80, mais R$ 1,50 pelo preenchimento da ficha Gare), Elizabete sofreu o último golpe: seu carro foi furtado, no dia 2.
Há um mês o empresário Maurício Gonçalves da Silva, 29, procurou um despachante para colocar novas placas na sua Ipanema 92.
Ao despachante, pagou R$ 150 pela documentação. Pelas placas, mais R$ 35. "Ainda está faltando alguma coisa, já nem sei mais o quê", afirmou Silva, após pegar os documentos no setor de lacração -sem as novas chapas- e ter que enfrentar nova fila.
Vistoria
O projetista Celso Yoshio Yacote, 38, teve melhor sorte. Depois de enfrentar "mais de sete horas de fila, em três dias diferentes", conseguiu retirar a segunda via do documento de transferência de sua Elba S 91. "Pretendo vender o carro, mas não posso fazê-lo sem o bilhete de transferência."
Yacote recorda com ironia todo o procedimento. "O mais rápido foi a vistoria (verifica-se número do chassi e condição geral de segurança do veículo), que não durou cinco minutos. Não olharam o extintor de incêndio, nem o número do chassi do carro", disse.
No final, outra decepção. Entregaram-lhe o documento de propriedade, não o de transferência.
"Finalmente consegui, depois de outra hora e meia de fila, retirar o documento que desejava."
O delegado e assessor de imprensa do Detran, Zaqueu Sofia, diz ter a receita para diminuir as filas.
"O usuário deve utilizar os serviços de informação (veja quadro ao lado) e ir aos guichês de atendimento com a documentação já em ordem. Isso raramente acontece."

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