São Paulo, sexta-feira, 16 de agosto de 1996 |
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"Afinidades Eletivas" traz o deslumbre visual da Toscana Mostra competitiva será encerrada hoje com dois filmes AMIR LABAKI
As mudanças de programação decorrentes do atraso da chegada de um título acabaram por concentrar fortes concorrentes numa espécie de super-sexta. Além disso, duas projeções especiais fora de concurso (o curta "Brevíssima História das Gentes de Santos" e o longa português "A Comédia de Deus", de João César Monteiro) tornam ainda mais forte o penúltimo dia do evento gaúcho. Cabe aos irmãos Paolo e Vittorio Taviani ("Pai Patrão") encerrar a competição latina, curiosamente neste ano mais forte do que a nacional, ainda que com reduzida importância no tabuleiro mundial dos festivais. Depois de Tolstói e Pirandello, desta vez é Goethe que serve de inspiração para o mais célebre par de irmãos-cineastas. Afinidades "Afinidades Eletivas" foi lançado em maio último como uma das projeções especiais, fora de concurso, de Cannes. O outro grande participante italiano do evento, "Stealing Beauty", de Bernardo Bertolucci, compartilha com o novo filme dos Taviani a mesma locação básica, o deslumbrante interior da Toscana. A estratégia de utilização do cenário é contudo oposta. Enquanto Bertolucci faz a beleza da região agregar seus personagens, em "Afinidades Eletivas" a não menos impactante paisagem aguça por contraste o drama que sedia. A trama segue de perto a trágica decomposição de um casal em pleno período napoleônico na França (século 19). O barão Eduardo (Jean-Hughes Anglade) e Carlota (Isabelle Huppert) têm um casamento tardio que parece perfeito. Metáfora A chegada de Otto, um arquiteto amigo, (Fabrizio Bentivolglio) e da enteada de Carlota, Ottilie (Marie Gillain, de "A Isca") põe em movimento uma ciranda amorosa. A metáfora é famosa: afinidades eletivas é o fenômeno através do qual elementos químicos rompem pares tradicionais para formarem novas combinações quando expostos a novos elementos. As leis da natureza derrotam assim o ainda fresco racionalismo iluminista. Os Taviani rodaram um filme elegante e preciso. Por sua vez, "Como Nascem Os Anjos" finaliza em chave alta a modesta disputa brasileira de Gramado-96. O terceiro longa ficcional de Murilo Salles enfoca com frescor um incidente de violência urbana no Rio, em que três personagens do morro, um jovem meio bobo, uma pré-adolescente e um garoto, acabam envolvidos num sequestro. É um dos trunfos do festival. Dois dos curtas (o experimental "O Enigma de Um Dia" e a animação "Reformulando a Criação - Tomada 2") trabalham com o universo das artes plásticas visto por olhos singelos. O terceiro título é "A Alma do Negócio", de José Roberto Torero ("Amor!"), uma sátira macabra à influência da cultura publicitária. O crítico Amir Labaki viaja a Gramado a convite da organização do festival. Texto Anterior: Toronto recebe o cinema brasileiro Próximo Texto: "For Ever Mozart" leva Godard até Sarajevo Índice |
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