São Paulo, sábado, 17 de agosto de 1996
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Brasil vai conviver com déficit, diz Franco

JACQUES CONSTANTINO
DA REPORTAGEM LOCAL

O diretor de Assuntos Internacionais do BC (Banco Central), Gustavo Franco, defendeu ontem que os investidores estrangeiros têm de aceitar como natural que um país como o Brasil, que precisa investir em educação e infra-estrutura, conviva com déficit nas contas públicas.
Falando para executivos de bancos, Franco afirmou que "o déficit nominal do Brasil está na média dos países europeus".
Déficit nominal é uma forma de medir o resultado das contas públicas que não expurga a inflação. Nessa forma de medir, o Brasil registra um déficit da ordem de 5% do PIB (Produto Interno Bruto, uma medida da riqueza nacional).
"Sopa"
Franco disse ainda que a luta contra o déficit, que será longa, é uma "guerra de guerrilha" e não é feita só de "batalhas heróicas". Ou seja, é mesmo travada mais na gestão do caixa no dia-a-dia do que nas votações do Congresso.
As afirmações de Franco, que representam também uma forma de atenuar o discurso anterior do governo, foram recebidas com desconfiança. "A questão não é o tamanho do déficit, mas a capacidade de financiamento", disse Paulo Leme, economista-chefe da Goldman Sachs.
Franco afirmou que os investidores estrangeiros já enxergam com naturalidade o déficit na chamada conta corrente (o resultado final entre saídas e entradas financeiras mais a movimentação do comércio exterior).
Para ele, foi exigido um esforço enorme da sociedade para, no passado, produzir um superávit comercial (exportações maiores que importações) de US$ 16 bilhões, com um fluxo comercial (exportações e importações somadas) de US$ 45 bilhões. Agora, o fluxo é de US$ 100 bilhões, e as versões mais pessimistas projetam um déficit de US$ 3 bilhões. Ajustar isso, disse, "é sopa".
Franco disse também que "não passa de uma idiotice" dizer que a política de câmbio limita o crescimento. Para ele, isso só aconteceria se a economia fosse fechada e mantivesse uma tendência de queda da produtividade.
Ganhar dinheiro
O diretor do BC afirmou que baixou para US$ 1 bilhão ao ano o custo para manter reservas altas (o caixa do país em moeda forte). Por isso, o país tem perdido capital especulativo (aproximadamente US$ 500 milhões), mas tem ganho a mesma quantidade de investimento de longo prazo.
O diretor do BC lembrou que o censo de capital estrangeiro, que terminaria ontem, foi prorrogado por mais quinze dias.
Franco, que participou de seminário sobre os títulos da dívida promovido pela Febraban (que representa as associações de bancos), defendeu a necessidade de o BC poder atuar no mercado secundário de títulos da dívida e realizar operações como a feita pelo México, que trocou dívida velha por dívida nova, ganhando US$ 166 milhões. "Por que só vocês podem ganhar dinheiro?", indagou.
(JCO)

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