São Paulo, sábado, 17 de agosto de 1996
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Momento de mudanças

ARMANDO BARROS DE CASTRO

Momentos de mudança
A indagação está calcada num grave e autêntico sinal de alerta. Todavia, para avaliarmos sua eventual importância para a estabilidade econômica nacional, é indispensável qualificar as mudanças em curso.
A primeira delas é que, atualmente, a estabilidade econômica, paradoxalmente, repousa primordialmente em fatores ou extra-econômicos ou transnacionais.
Nesse sentido, a espantosa mobilidade e magnitude dos fluxos financeiros internacionais, a imprevisível velocidade e impacto do sucateamento do sistema produtivo -em decorrência das novas tecnologias e da abertura-, a crescente flexibilização institucional dos complexos produtivos (terceirização etc.) e a indeterminação dos atuais fatores de localização espacial das atividades produtivas configuram um contexto totalmente alheio aos pressupostos das principais correntes de pensamento econômico.
Basta lembrar, nesse sentido, que seus principais protagonistas tiveram drasticamente reduzido seu significado histórico. Assim, por exemplo, lembraríamos: o consumidor-soberano (uma ficção?), o Estado-nação (um cadáver insepulto?), os partidos políticos (uma farsa?), o empresário-inovador (uma figura mitológica?). Persiste, portanto, uma incógnita no presente momento com relação aos futuros resultados das transformações ainda em pleno processo de implementação.
Assim, por exemplo, a abertura da economia -indispensável e, em grande parte, já institucionalizada- pode resultar em desestruturação irremediável do sistema produtivo interno, mas também pode consolidar-se como alicerce da integração do país ao mundo globalizado.
A estabilização do valor da moeda, por sua vez, não pode, atualmente, prescindir da âncora cambial, mas também essa âncora não substitui as demais reformas estruturais.
Finalmente, a indispensável e criteriosa privatização do setor produtivo estatal deve efetuar-se com concomitante criação de um novo arcabouço institucional público, menos "produtivo", mas mais eficaz na identificação, articulação e promoção dos legítimos interesses nacionais.
Convém assinalar que é, além de ilusório, extremamente pernicioso ao país supor que, dado a envergadura e o significado histórico do Estado no Brasil, possam ser substituídos pelo mercado.
Na verdade, na era da globalização, a coesão social e a democracia dependem de novos paradigmas teóricos e de novos marcos político-institucionais ainda embrionários. Conclusivamente: os "clássicos" remédios para o desemprego são ineficazes. Inovadoras políticas públicas e a inserção ativa do Brasil são indispensáveis para enfrentar a tragédia potencial do desemprego.

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