São Paulo, sexta-feira, 23 de agosto de 1996
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Herzog elogia o inapto

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Em 1977, quando foi feito, "Stroszek" (Multishow, 3h10) até podia parecer um "remake" nem sempre muito original de "O Enigma de Kaspar Hauser", também de Werner Herzog.
Hoje, quase 20 anos depois, o cineasta alemão está na baixa, sumido. É boa hora para rever seu filme. Está certo, é mais uma balada dedicada aos socialmente inaptos (como "Kaspar Hauser"), aos supostamente imbecis, aos incapazes de compreender os códigos de convivência.
Sabe-se, ao mesmo tempo, que o mundo é cada vez menos tolerante com a diferença. Na nova ordem global, há que lutar por um lugar, aplicar-se. Não há espaço para amadores ou marginais.
"Stroszek", o filme, tende a aparecer como um incômodo e seu personagem como uma impertinência. No caso, ele dá com os costados nos EUA, vive toscamente o "sonho americano", acaba cruelmente despojado dele (a cena em que sua casa é retomada continua antológica).
Herzog confronta o padrão (imaginário, pelo menos) de eficiência, a um paradigma da ineficácia. Termina por afirmar um outro sonho: o de um mundo em que todos tenham lugar. Pode ser um tanto fora de moda. Por sorte, sonhos desconhecem a moda.
(IA)

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