São Paulo, sábado, 24 de agosto de 1996
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'Existe muitos que fazem favor espúrio'

CARLOS EDUARDO ALVES
DA REPORTAGEM LOCAL

O prefeito Paulo Maluf (PPB) fez ontem o seu mais duro ataque à tentativa de votar ainda em 96 a emenda que permitiria a reeleição presidencial. "Vindo de quem vem capitaneando o processo de reeleição, só se pode esperar corrupção", afirmou Maluf, em entrevista exclusiva à Folha.
Maluf fez questão de excluir o presidente Fernando Henrique Cardoso e membros do PFL das críticas. Liminarmente, descartou a participação direta de FHC e afirmou que os pefelistas votam por "convicção ideológica".
"Eu estou me referindo a um ministro de Estado desse governo", afirmou quando indagado sobre o nome da pessoa que estaria capitaneando a luta pela reeleição. Entre os ministros de FHC, Sérgio Motta (Comunicações) é o que tem defendido mais abertamente a tese da reeleição.
Procurada pela Folha, a assessoria do ministro disse que ele não se manifestaria, já que não houve menção explícita a seu nome.
Maluf acrescentou que "operações espúrias" para conseguir a reeleição de FHC podem levar o país a um momento perigoso. "Isso pode desestabilizar o governo do presidente Fernando Henrique", acha.
Cooptação
O prefeito paulistano é hoje candidato potencial à Presidência da República em 98 e teme, no primeiro momento, que exista uma tentativa de cooptação de deputados de seu partido para aprovação da emenda que daria a FHC o direito de disputar novo mandato.
"Existe muito bufão de opereta, sujeitos que fazem favor espúrio pensando que estão comprando o Congresso", disse, mais uma vez sem citar nomes, sobre a possibilidade de os defensores da reeleição conseguirem dissidências no PPB.
Os "áulicos e puxa-sacos" que, segundo Maluf, estariam aconselhando FHC, deveriam, no entender do prefeito, refletir sobre o que as pesquisas eleitorais estão revelando.
"É bom pensar se os resultados pífios dos candidatos do PSDB representam derrotas individuais ou são fruto da imagem do presidente e do PSDB", acha.
Na sequência do ataque, Maluf se disse mais uma vez vítima de uma quebra de compromisso. "Em dezembro do ano passado, o presidente da República me disse que colocaria a emenda da reeleição na pauta da convocação extraordinária do Congresso, mas ele não quis", reclamou.
Se a emenda tivesse sido votada, daria o direito à reeleição aos atuais prefeitos.
Maluf quer atrair os atuais prefeitos, que tendem a eleger candidatos às suas sucessões, para a luta contra a reeleição.
O argumento é que alguns deles, candidatos potenciais a governos estaduais, ganhariam de cara a concorrência forte dos atuais governadores.
Maia
O prefeito paulistano está tentando, também, construir uma ponte com o prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL).
Em situação eleitoral parecida com a do colega carioca --os candidatos de Maia e Maluf estão em ascensão--, Maluf preocupa-se com a possibilidade de o pefelista ser utilizado pelos governistas como contraponto à força do prefeito paulistano na questão reeleição, caso ambos consigam eleger seus sucessores.
"Você acha que o Cesar Maia, que já está nomeado governador do Rio, vai querer disputar contra Marcello Alencar e todo o governo Fernando Henrique?", indagou.
Com esse argumento, Maluf espera convencer Maia a não vestir definitivamente a camisa da reeleição.
O plano de Maluf, caso consiga eleger Pitta, é iniciar já em fevereiro de 97 uma série de viagens pelo país. Quer sentir se existem condições de repetir em outros Estados o desempenho eleitoral de sua corrente em São Paulo.

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