São Paulo, sábado, 24 de agosto de 1996
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Recordar é viver

JUCA KFOURI

Em 1989, Ricardo Teixeira foi eleito presidente da CBF numa eleição viciada como sempre foram viciadas as eleições na CBF. Compra de votos, sequestros de presidentes de federações menores, prisão de eleitores em hotéis para que não trocassem de lado, assim foi.
Mas o novo presidente, cuja única credencial era ser genro de João Havelange, assumiu prometendo mudar a face do nosso futebol.
E se recusava a falar comigo, pois eu havia escrito que o processo eleitoral na CBF não era para freiras, estava mais para meretrizes.
Enquanto eu respeitava o direito dele de não falar, e ele começava sua gestão nomeando ninguém menos que Eurico Miranda para dirigir a seleção brasileira e trocava o técnico medalha de prata na Olimpíada de Seul, Carlos Alberto Silva, por Sebastião Lazaroni, um conhecido comum tentava promover um encontro entre nós.
O que acabou acontecendo num almoço no Rio de Janeiro. Relações estabelecidas, passamos a manter um contato civilizado, como deve ser entre fonte e jornalista.
O tempo passou um pouco, Teixeira se deu conta de que Eurico Miranda e modernização eram incompatíveis, trocou-o pela bela figura de Jorge Salgado e fomos à Copa do Mundo da Itália.
Após a derrota, injusta por sinal, para a Argentina, Teixeira me encontra na porta do vestiário brasileiro e pede que eu vá conversar com Salgado, que estava inconsolável.
Aceito o pedido, mas antes lhe digo que estava preparado para encontrá-lo numa situação mais alegre, na comemoração do então ainda sonhado tetra. E que, em clima de festa, iria dizer a ele que o mais fácil estava feito, ganhar uma Copa. O desafio mesmo era organizar o futebol brasileiro, com o que o nossa seleção ganharia duas em cada três Copas.
Repeti o raciocínio naquele clima de velório. Disse-lhe, então, o óbvio: perder a Copa não era nenhuma vergonha. Vergonha era a bagunça instalada no Brasil e que, se ele virasse as costas para as federações estaduais, e administrasse com os grandes clubes do país, entraria para a história.
Ele se comprometeu a fazê-lo, traiu o compromisso -não comigo, que fique claro, mas com o futebol nacional- e, seis anos depois, vê novamente o cavalo passar encilhado na sua frente. Montará? Não creio, mas, sinceramente, torço para que sim.

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