São Paulo, quinta-feira, 29 de agosto de 1996
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Perda tarifária é de R$ 16,4 bi, diz Telebrás

MÁRCIO DE MORAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Telebrás possui um passivo tarifário de R$ 16,4 bilhões, revela o balanço do primeiro semestre da estatal, que registrou R$ 1,6 bilhão de lucro líquido até 30 de junho deste ano.
Um novo balancete consolidado, relativo aos sete primeiros meses do ano, foi divulgado ontem, confirmando o lucro da estatal em R$ 1,9 bilhão.
Esse passivo, acumulado desde a criação da estatal (em 1971), demonstra claramente que o represamento artificial das tarifas pode prejudicar uma empresa.
Foi a partir de 1985, com o início do governo José Sarney, que a Telebrás experimentou a maior redução dos níveis tarifários da sua história, responsáveis pelo atual passivo.
Esse represamento foi determinado por políticas e planos econômicos que renderam dividendos políticos -como o Cruzado-, prejudicando o acionista majoritário (a União) e os usuários (cidadãos e contribuintes brasileiros).
Faltam linhas
Apenas em São Paulo, a demanda reprimida por telefones é de 6,4 milhões de linhas (3,4 milhões de convencionais e 3 milhões de celulares). A carência se deve à falta de investimento e de tarifas com preços mais realistas, diz a Telebrás.
O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) se considera um "sem-telefone", numa alusão aos trabalhadores sem-terra.
"O PT e o PC do B, partidos pelos quais tenho simpatia, que me desculpem. Mas os sem-telefone são tão deserdados quanto os sem-terra e os sem-teto", reclama Gabeira, que tenta comprar um celular na Telerj desde 95, em vão.
Perdas elevadas
A tarifa básica residencial, um dos itens que ajudaram a provocar o passivo tarifário da Telebrás, valia R$ 12,20 no início da década de 70. Desde então, ela sofreu perda de quase 78%.
"Hoje, ela (a tarifa básica) não passa de R$ 2,70 (com impostos, chega a R$ 3,74). No mínimo, devemos triplicá-la para alcançar os níveis internacionais", defende o presidente da Telebrás, Fernando Xavier Ferreira.
A estatal espera para novembro a segunda fase de uma reestruturação tarifária já em curso, quando a reposição de 200% na tarifa básica e outro índice (ainda não definido) na tarifa local deverão esquentar a cotação das ações da Telebrás nas Bolsas de Valores.
E isso só está sendo feito por um motivo: atrair capitais privados para substituir a União na tarefa de controlar a Telebrás.
A previsão do ministro Sérgio Motta (Comunicações) é que a Telebrás seja privatizada entre o final de 98 e o início de 99. Assim, todo o lucro que a estatal não desfrutou durante todos esses anos ficará para o futuro proprietário privado.

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