São Paulo, segunda-feira, 2 de setembro de 1996
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Concurso para juiz veta mulher de calça

DA REPORTAGEM LOCAL

Candidatas ao concurso para o cargo de juiz de direito foram impedidas ontem de fazer o exame seletivo porque não estariam vestidas de acordo com a "tradição forense".
Segundo candidatas entrevistadas pela Folha, todas as mulheres que estavam usando calças foram barradas na porta da Faculdade Álvares Penteado, onde a prova foi realizada. Elas dizem que só puderam participar aquelas que estavam vestindo saia.
"O edital dizia que os candidatos deveriam se trajar de acordo com a prática forense. Sou advogada e vou frequentemente ao tribunal de calça", disse uma candidata.
As candidatas, que pediram para não serem identificadas, disseram que uma garota, que estaria na sala 504, teve que fazer o exame apenas de blazer e calcinha. "Como o blazer era comprido, cobrindo a coxa, ela fingiu que estava usando um vestido", disse uma delas.
Uma outra participante do concurso, que teria vindo de Presidente Prudente, no interior de São Paulo, teria tirado a roupa e vestido uma camisola que estava em sua mala para poder prestar o exame.
Horário
Outros concorrentes também teriam sido impedidos de fazer a prova, apesar de afirmarem que chegaram dentro do horário estipulado pela comissão organizadora do concurso.
A comissão havia determinado que os candidatos deveriam chegar ao local do exame até as 8h30. A prova começaria às 9h. "Cheguei às 8h20, mas havia muita gente na fila, porque a porta era estreita e era necessário apresentar documentos. Quando estava chegando a minha vez de entrar, a porta foi fechada na minha cara", afirmou uma candidata.
O presidente da comissão organizadora do concurso, desembargador Antônio Carlos Alves Braga, não foi localizado ontem pela reportagem.
"Respeito e prestigio a autoridade do presidente do concurso", afirmou o presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Yussef Said Cahali. "Cheguei por volta das 10h ao local do exame. Vi muitas pessoas do lado de fora. Eles estavam um pouco à vontade. Não imaginei que fosse candidatos."
Sobre o fato de que uma candidata teria feito o exame apenas de blazer e uma outra de camisola, o presidente disse que não tomou conhecimento. "As denúncias devem ser encaminhadas por escrito ao Tribunal de Justiça."
O presidente disse que 3.173 pessoas foram habilitadas para participar do concurso, e 2.518 fizeram a prova ontem. Elas disputam 160 vagas. O concurso é dividido em três fases: teste, exame escrito e exame oral. Ontem, foi realizada a primeira etapa.

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