São Paulo, segunda-feira, 2 de setembro de 1996
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Sex Pistols 96 esbanja profissionalismo

MARCELO ROMKO
LEITOR DO FOLHATEEN

Gosto muito dos Sex Pistols, mas saí do Brasil com a certeza de que o show seria ruim. Afinal, punk não combina com megaproduções e quarentões oportunistas.
Chegando a Los Angeles, descobri que os Pistols fariam três shows na cidade. Meu ingresso era para o Universal Amphetheatre, lugar para 12 mil pessoas e, como qualquer teatro, tem cadeiras. Isso mesmo, eu iria ver o show da banda que já foi sinônimo de desordem em um lugar com cadeiras.
Você provavelmente está pensando: "Esse cara vai de graça para Los Angeles ver o show do Sex Pistols e não pára de falar em cadeiras". Sou um defensor do punk de shows com 200, 300 pessoas em lugares pequenos, sem cadeiras.
Quando entrei no teatro, a primeira banda, Gravity Kills, já estava tocando. Eles fazem um som industrial, tipo Nine Inch Nails.
Fiquei espantado com o grande número de senhores e senhoras com seus 35 anos. Estes devem ser os verdadeiros punks dos anos 70, que hoje se vestem discretamente e não lembram mais onde guardaram seus discos dos Sex Pistols.
O evento tinha um certo ar de cultura "trash". Deve ser "cool" ir a um show dos Sex Pistols em 96, banda cujos integrantes fazem questão de afirmar que se odeiam e só estão juntos pelo dinheiro.
Antes dos Pistols, tocou o Goldfinger, uma banda de L.A. que faz um ska meio falsificado, totalmente pop. Não gostei da banda quando ouvi o CD, mas confesso que o show foi bom.
Eu, que não esperava nada do show dos Pistols, fiquei empolgado em saber que em poucos minutos eles estariam na minha frente. Naquela hora, senti por que tinha mandado o cupom para participar da promoção Folhateen/Virgin.
Achei que o show poderia ser legal, que poderia haver um fundo de punk rock verdadeiro em todo aquele circo. Enfim, que havia sentido naquela reunião. Por alguns minutos, cheguei até a desejar a volta do Clash, uma das minhas bandas preferidas.
Tentei chegar mais perto do palco. À minha frente havia mais uma sessão de cadeiras, umas 15 fileiras, e depois uma pequena área onde umas mil pessoas assistiam ao show de pé, bem perto do palco.
Fui barrado pela segurança antes mesmo de passar pelas cadeiras, pois meu ingresso deixava bem claro onde eu deveria estar, longe dali. Voltei para o meu lugar.
Mesmo assim, foi um show acima da média. Porque as músicas são boas, sempre serão, e os Pistols estão tocando bem, muito melhor do que eu esperava. Mesmo indignado em estar tão longe do palco, cheguei a balançar a cabeça com os riffs de "Bodies", "God Save the Queen" e "Pretty Vacant".
Participei da pequena festa que aconteceu após o show e até tirei uma foto ao lado de Glen Matlock, baixista da banda. Glen era puxado de um lado para o outro, apresentado a pessoas que ele não fazia a mínima questão de conhecer.
Paul Cook, baterista, e Steve Jones, guitarrista, puderam gastar seu tempo com as tietes. John Lydon, vocalista, não deu as caras, provavelmente mais cansado de toda esta história do que eu.
A banda vai tocar no Brasil em dezembro, e você deve ir ao show. Punks americanos que deixaram de ver os Sex Pistols 96 por princípios não conseguem mais dormir direito e vão passar o resto da vida sentindo falta de alguma coisa.
O show pode não ser exatamente punk. Pode até ser deprimente para você que tem uma alma punk, mas, justamente por isso, você não vai acreditar na opinião de ninguém e vai tirar suas conclusões.

O leitor Marcelo Romko, 22, foi o vencedor da promoção Sex Pistols Folhateen Virgin e ganhou como prêmio a viagem a Los Angeles

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