São Paulo, segunda-feira, 2 de setembro de 1996
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Vozes femininas renovam pop nacional

MARISA ADÁN GIL
DA REPORTAGEM LOCAL

Três novas cantoras surgem para renovar a cena pop nacional. Nega Rosa, Belô Velloso e Yara Figueiredo têm em comum a sofisticação, o repertório de alta qualidade e as ligações históricas com a MPB.
Rosa e Belô (sobrinha de Caetano) lançam discos no início de setembro. Yara estréia show no Rio na mesma época.
A maior novidade dessa leva é a cantora Nega Rosa, ou Rosa Emilia Machado Dias, 31, baiana residente em Milão.
Com o disco que sai em setembro pelo selo Lux (de Nelson Motta, distribuído no Brasil pela Polygram), ela pretende lançar um novo estilo: o "cool reggae".
"É diferente do reggae que se faz aí no Brasil, que é mais duro", disse a cantora, em entrevista à Folha, por telefone, de Milão.
"O meu reggae é o da Jamaica, sensual e cheio de sons eletrônicos. Fica no limite entre o ouvir e o dançar."
Espaguete com acarajé
Nada de ecletismo. "Nega Rosa", o disco, é só reggae, do começo ao fim. A variedade fica por conta das músicas escolhidas.
Brasil e Itália convivem em perfeita harmonia: há músicas de Gilberto Gil ("Vamos Fugir") e de Djavan ("Se"), mas também cantores como Pino Daniele e Carlo Rossi. Rosa canta em português e italiano.
"A idéia era revisitar músicas românticas dos dois países em forma de reggae", diz Rosa. "Ficou espaguete com acarajé."
O álbum terá dez faixas, mais duas bônus -repetições, com letras em português.
Em todas, Rosa é acompanhada por uma banda liderada pelo veneziano Cristiano Verardo -que co-produziu o álbum (com Tuta Aquino), além de tocar guitarra e cuidar da programação eletrônica.
Versões
Duas músicas italianas ganharam versão de Nelson Motta: "...Resta Resta Cu'Mme'", de Pino Danilele e Jovanotti, virou "Chega Pra Cá".
"E se Domani", de Giorgio Calabrese, Carlo Rossi e Antoni Armato, foi traduzida como "Todas as Manhãs".
A capa do disco é do designer gráfico Giovani Bianco. O look da cantora foi produzido por Costanza Pascolato.
Em setembro, Rosa vem ao Brasil. Os shows ainda não têm data definida.
Rosa não sabe se vem para ficar. "Meu sonho é trabalhar nos dois lugares, ter dois verões por ano."
Boom italiano
A cantora mora em Milão desde janeiro de 1989. Foi para lá logo após a morte do marido -o poeta e letrista Cacaso, com quem se casou em 1982.
Foi Cacaso quem a incentivou a gravar o primeiro disco, "Ultraleve", em 1988.
Cantava composições do marido em parceria com Jacques Morelembaum, Nelson Angelo e Sueli Costa.
Havia ainda uma parceria entre Rosa e Cacaso: "Deixa o Barraco Rolar".
"Era um disco de MPB, intimista, completamente diferente desse que acabei de fazer", diz.
A gravação independente teve críticas positivas e distribuição zero. Seis meses depois do lançamento, Rosa mudou-se para a Itália, onde atuou como vocalista do grupo de reggae Pittura Freska.
"Boom"
Foi no Pittura que conheceu o guitarrista Cristiano. "Ele sugeriu que fizéssemos um disco com covers de músicas italianas e brasileiras", diz Rosa. Duas músicas do Pittura entraram no álbum.
O "boom" da música italiana no Brasil deixa Rosa animada. "A música italiana se fortaleceu e foi exportada para o mundo todo."
Para ela, existe um buraco no mercado. "Não há cantoras cantando reggae. E também não há cantoras defendendo a cor negra."

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