São Paulo, segunda-feira, 2 de setembro de 1996
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Paulo Arantes celebra o "brutalismo de Marx"

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O filósofo Paulo Arantes encerrou na sexta-feira o seminário "150 Anos de 'A Ideologia Alemã"', promovido na USP pelo Centro Acadêmico de Filosfia João Cruz Costa, com uma homenagem ao que ele chamou de "estilo meio brutalista" com que Marx criticou os ideólogos alemães de sua época.
Arantes procurou fazer com o desconstrucionismo francês, do qual Jacques Derrida é principal expoente, aquilo que Marx fez com os ideólogos de seu tempo.
A operação, complicada, consistiu em mostrar, durante quase duas horas, como o desconstrucionismo se antecipa e descreve involuntariamente o processo de desintegração real do capitalismo contemporâneo.
Sem querer, disse Arantes, o desconstrucionsimo que, tomado ao pé da letra, não fala coisa com coisa, "passou a ser uma descrição vulgar da empiria". O seu segredo está em apresentar como vitória sobre a metafísica aquilo que é, na verdade, o sintoma de uma monumental derrota.
A desmontagem da idéia de sujeito, de sentido, de razão, de verdade etc. são apresentados por Derrida como uma libertação da metafísica que domina o pensamento ocidental desde Platão.
O que Derrida faz, disse Arantes, é estilizar de maneira vanguardista o desastre do mundo contemporâneo, provocando na claque uma espécie de frisson estético, que é sua verdadeira função.
No final da conferência, o filósofo Ruy Fausto, presente na platéia, disse que o esquema proposto por Arantes omite várias coisas e não faz a crítica das formações ideológicas de esquerda, sem o que seria impossível entender o século.
"No seu balanço você não fala do maoísmo, do stalinismo, não fala nada sobre a esquerda. É como se tudo estivesse muito bem no nosso campo. Em que nós acreditávamos há 20 anos? Você fala como se tudo estivesse perfeito. Se você não fizer essa crítica, outros vão fazer e vão fazer mal", disse Fausto.

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