São Paulo, terça-feira, 3 de setembro de 1996
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Outra rota, mesmo fim

JANIO DE FREITAS

Já não há certeza nem de que o projeto permitindo reeleição venha a ser submetido às votações na Câmara e no Senado. A discussão sobre a melhor oportunidade de apresentá-lo, se neste ano ou em 97, está superada. O destino do projeto passa a depender da nova estratégia planejada na Presidência da República com o comando do PFL.
A forte recusa do eleitorado ao direito de reeleição, especialmente se reeleição de Fernando Henrique Cardoso, levou a duas conclusões imediatas. Mais óbvia, a de que o projeto, com tamanha rejeição pública, da ordem de 70%, não teria a menor chance de aprovação no Congresso. Outra, a da evidência de que não adiantaria a Fernando Henrique e ao PFL concentrar o proselitismo nos parlamentares, se a objeção do eleitorado é considerada bastante para derrotar o projeto.
Não começou bem, mas já está em prática a nova estratégia, que pretende reverter a opinião pública ao menos em medida que não dificulte a aquisição de apoios parlamentares. No ato inicial, porém, desandou a planejada exibição, em todas as primeiras páginas, de Fernando Henrique em visita aos estúdios e aos atores da TV Globo. Nem o "Globo" lhe concedeu mais que uma foto em preto e branco em página lá para trás.
Era, diz-se, a demonstração do jornal, ao próprio Fernando Henrique, de que não lhe agradou ser usado para manchetar a "pesquisa" favorável à reeleição e dita da dupla Ibope-MCI. No dia mesmo da visita, sexta-feira, o jornal cravava na manchete: "Adversários da reeleição dizem que Planalto forjou pesquisa". Nada mais inconveniente a Fernando Henrique.
A propósito dessa "pesquisa", o senador Pedro Simon já apresentou um primeiro requerimento de informações ao governo. Há muito mais a ser feito por iniciativa parlamentar. MCI é a sigla que serve a Antonio Lavareda, coordenador da campanha eleitoral de Fernando Henrique e, a partir da posse, seu assessor de marketing. Sabendo-se já que a pesquisa não foi paga pelo PSDB, como o governo informara de início, mas pela Petrobrás e por ordem partida do Planalto, há muito a ser esmiuçado e, com certeza, muito a ser punido. Mesmo que ninguém se ocupe da falta de decoro administrativo por parte da Presidência. Quanto ao Ibope, saiu-se ontem com pesquisa de sentido absolutamente inverso à de quatro dias antes, agora confirmando a constatação inaugurada pelo Datafolha. Talvez pelo peso do seu precedente, o Ibope carregou nas tintas: "se o pleito fosse hoje, na capital paulista Maluf teria 40% e FH 20%".
Parte também dos novos esforços, alguns jornais do fim-de-semana exibiram interessante coincidência, estendida a certo colunismo de ontem: descobriram, cada qual pelo seu lado, que Tarso Genro, o prefeito petista de Porto Alegre, é concorrente potencial de Luiz Inácio da Silva a candidato à Presidência pelo PT. Se depender da central brasiliense de coincidências, o PT começa logo novo racha, José Sarney e Itamar Franco rompem entre si e atiram juntos em Maluf.
Entre outras dificuldades para seu êxito, a nova estratégia pró-reeleição precisaria conseguir algo improvável: superar o cansaço com o populismo à maneira de Fernando Henrique. Se isso ainda desse resultado, ele não estaria tão mal na opinião manifesta do eleitorado.

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