São Paulo, terça-feira, 3 de setembro de 1996
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"TV Pinel" pode ser exibido na Globo

DANIELA FALCÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Hospital Psiquiátrico Philippe Pinel, do Rio de Janeiro, está negociando com a Rede Globo a exibição de quadros do "TV Pinel" -programa produzido pelos pacientes do manicômio- no "Domingão do Faustão".
O "TV Pinel" foi criado em março com o objetivo de desenvolver trabalho corporal e melhorar a auto-estima dos pacientes.
"Também pretendíamos intervir culturalmente, mostrando que nem sempre dá para distinguir o louco do são", afirmou Ricardo Peret, diretor do Pinel.
Peret participa hoje de debate na 10ª Conferência Nacional de Saúde, em Brasília, sobre saúde mental. O Pinel é considerado modelo no atendimento de doentes mentais porque mantém seus pacientes junto da família. Eles passam o dia no hospital e só em casos de crises agudas são internados.
"Os loucos, desde que bem tratados, podem conviver tranquilamente com o resto da sociedade. Eles têm dificuldades e limitações, mas podem fazer quase tudo. E a 'TV Pinel' mostra isso", diz Peret.
Clipes e novela
O "TV Pinel" é produzido a cada dois meses e tem 45 minutos de duração. Cada programa tem quatro quadros: um telejornal, uma mininovela, depoimentos dos pacientes sobre assuntos diários (o "Loucotidiano") e o "Clipinel" (clipes de músicas de autoria dos doentes).
Atualmente, é exibido uma vez por semana, em blocos de 5 minutos, pela TV Educativa.
Três doentes mentais foram contratados para trabalhar no programa: dois como repórteres e um como editor. Mas quase todos os 140 pacientes adultos participam do "TV Pinel", escrevendo textos, músicas ou atuando nas novelas.
O destaque é o repórter Maycon Santos. No último programa, Maycon iniciou o telejornal dizendo com voz grave que o ministro da Saúde havia renunciado. Depois, emendou: "É mentirinha. Está no ar o 'Telejornal Pinel"'.
A música tema do programa, "Metamorfose Ambulante" (de Raul Seixas), foi escolhida pelos próprios pacientes.
Além dos três doentes mentais, fazem parte da equipe de produção do programa sete membros do Centro de Criação de Imagem Popular, uma ONG (organização não-governamental) carioca especializada em TV comunitária.
O clipe mais popular -"Mulheres"- foi escrito por um ex-paciente. A letra fala sobre as várias mulheres que ele já teve.
"Umas casadas, outras carentes. Umas solteiras, outras felizes", diz a letra.

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