São Paulo, terça-feira, 3 de setembro de 1996
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Etnia é chave para estabilidade

IGOR GIELOW
DE LONDRES

Os curdos são um dos principais fatores para a estabilidade no Oriente Médio.
Prova disso foi o acordo, assinado em fevereiro e ampliado na quinta-feira da semana passada, entre Turquia e Israel.
Segundo o acerto, a cooperação militar entre turcos e israelenses pode incluir manobras conjuntas, usos de instalações nos dois países e troca de tecnologia.
Além disso, troca de experiência. Aí entram os curdos: o governo sírio acredita que um fluxo de refugiados curdos que chegou ao norte do país em abril seja derivado de um ataque turco coordenado por militares de Israel.
O motivo é criar um ponto de pressão para o regime da Síria, comandado por Hafez al Assad.
Com refugiados inundando o norte de seu território, fica difícil sustentar o apoio que Damasco dá ao PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão, da Turquia).
E é reforçada a vontade curda de formar um Curdistão independente no norte sírio, norte iraquiano e, eventualmente, parte da fronteira iraniana.
Os curdos ocupam esses territórios e o sul turco desde o século 16.
Com o fim do Império Otomano, após a Primeira Guerra Mundial, foi decidida a partilha da região sob mandatos ocidentais. O Curdistão seria uma região autônoma.
Mas o Tratado de Sèvres (1920), que definiu o status, nunca foi levado a cabo. Com isso, começaram os movimentos curdos por sua independência.
O Iraque sempre foi o foco principal, por concentrar a maioria da etnia curda. Em 1931, houve uma rebelião liderada por Ahmad Barzani, avô de Massoud Barzani, atual líder do PDC. Seu pai, Mustafá Barzani, liderou outra revolta sufocada em 1961.
O regime de Saddam Hussein radicalizou em duas oportunidades. Em 1988, atacou com gás venenoso áreas no norte do país. Só na cidade de Halabja, matou 4.000.
Em 1991, logo após a derrota na Guerra do Golfo, o Iraque atacou a região e criou 2 milhões de refugiados. Eles foram principalmente para as montanhas no sul da Turquia, sob comando do PKK.
Em 1994, intensificou-se o conflito entre as facções curdas no Iraque. Os EUA costuraram uma trégua, que faliu e levou à crise atual -na qual Saddam aproveita o "racha" curdo e aumenta a divisão, empecilho à criação do Curdistão independente.

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