São Paulo, terça-feira, 3 de setembro de 1996
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Rio Gente, uma cidade para os cariocas

Vamos atuar dentro de um modelo que substituirá o Estado centralizador pelo Estado parceiro
SÉRGIO CABRAL
Ao escolher o termo Rio Gente como idéia mestra e mote do nosso programa de governo, procuramos definir a cidade por seu povo. O objetivo primordial é apresentar a prefeitura não como expressão de poder, mas sim como um canal permanente de diálogo com o cidadão.
Em outras palavras, a idéia do Rio Gente determina o sentido das nossas ações à frente da Prefeitura do Rio de Janeiro, que pode ser sintetizado na seguinte pergunta: o que a prefeitura precisa fazer para melhorar a vida dos seus cidadãos?
Nos últimos anos, os problemas relativos às áreas de saúde, educação, transporte e geração de empregos têm sido o alvo principal das preocupações da maioria da população. É de conhecimento geral o drama das emergências nos grandes hospitais da cidade, que se desdobram no atendimento de casos que vão de simples alergias a graves acidentes de trânsito.
A oferta municipal de serviços é insuficiente: 17 hospitais e 70 postos de saúde respondem por apenas 13% dos atendimentos. A prefeitura deve assumir a responsabilidade de coordenar a rede pública, a maior da América Latina, e a conveniada, dentro do SUS (Sistema Unificado de Saúde).
Nossa meta será a de propiciar um serviço integral, que comece pelo atendimento domiciliar, por meio do Projeto Médico de Família, passe pelos postos e centros de saúde, transformados em policlínicas abertas 24 horas por dia, e chegue até os grandes hospitais gerais.
As 1.033 escolas do município, que contavam com quase 800 mil alunos no início do ano letivo de 1992, hoje não têm mais que 670 mil. A queda denuncia o afastamento da população do seu patrimônio. Recuperada para o cumprimento de suas funções básicas, a escola do Rio de Janeiro passará a atender às demandas características do milênio que se aproxima, preparando seus futuros cidadãos para a sociedade globalizada e para o mercado moderno, em que o desempenho estará inexoravelmente ligado ao nível de informação.
O Rio de Janeiro é a única cidade grande do mundo em que a grande maioria da população é praticamente obrigada a andar de ônibus, já que as redes ferroviária e metroviária são muito precárias.
Trata-se de uma situação aberrante do ponto de vista técnico, já que, no moderno conceito urbano, os ônibus não são considerados transportes de massa. O pior da falta de opções de tráfego pela cidade é a violência contra o ser humano, constrangido a sacrificar o mais democrático de todos os bens: o seu precioso tempo de ir e vir.
Nesse sentido, pretendemos incrementar o processo de parceria, tanto com o poder público como com a iniciativa privada, visando a ampliação do genuíno transporte de massa. No que diz respeito ao poder público, nosso partido, o PSDB, está afinado com as metas do governador Marcello Alencar e do presidente Fernando Henrique Cardoso.
Juntos, vamos lutar por uma reforma da lei orgânica do município para que sejam ampliados os prazos de concessão de serviços públicos de 10 para 30 anos. Com isso, pretendemos atrair investidores privados interessados na construção de estacionamentos subterrâneos, uma iniciativa que com certeza irá contribuir para a melhora do problema do transporte no Rio, à medida que irá diminuir o número de carros nas ruas.
A recuperação econômica da cidade é também motivo de nossas principais preocupações. Na década de 80, o PIB do município caiu 10%, bem mais que o PIB nacional (6%). A população empobreceu consideravelmente. Para mudar esse panorama, vamos buscar alternativas modernas para áreas do setor de serviços, que estejam em vias de estagnação.
Iremos nos empenhar, junto ao governo federal, no sentido de levar adiante uma revisão dos critérios de financiamento da indústria naval, que concentra no Rio 95% de sua capacidade instalada, além de incentivar a indústria da construção civil, atualmente responsável pela geração de 95 mil empregos. Merecerá, porém, destaque especial o segmento das micro e pequenas empresas, que reúne 118 mil estabelecimentos (98% do total) e emprega cerca de 2 milhões de pessoas (60%).
Esses pontos fundamentais convergem para o benefício do que constitui e efetivamente dignifica a cidade -sua gente, sua população. Vamos atuar dentro de um modelo que substituirá o Estado centralizador pelo Estado parceiro, cujo poder é diretamente proporcional à capacidade de articular em torno de si os múltiplos e pequenos poderes existentes na sociedade.
E a tônica será a da descentralização, que transforme cada chefe de setor no representante do prefeito junto às comunidades, abrindo o primeiro caminho para um gerenciamento moderno, racional, eficiente e democrático.

Sérgio Cabral, 33, é candidato a prefeito do Rio de Janeiro (RJ) pela coligação PSDB/PMDB/PPB/PL/PTB/PSC/PSD e deputado estadual licenciado pelo PSDB no Rio de Janeiro.

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