São Paulo, sábado, 7 de setembro de 1996 |
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Reeleição hoje tem apenas 265 votos
CLÓVIS ROSSI
A aprovação de qualquer emenda constitucional requer o voto favorável de três quintos (308) dos 513 deputados federais. O cálculo sobre a viabilidade de aprovação da emenda foi conseguido pela Folha junto a um dos maiores especialistas em medir o humor de seus pares no Congresso Nacional. A contabilidade está subdividida por partidos, da seguinte forma: os 215 votos das bancadas de PSDB, PFL e PTB, os três partidos que formaram a coligação que elegeu o presidente Fernando Henrique Cardoso em 1994. Haverá defecções, mas o especialista calcula que elas serão compensadas com adesões em partidos pequenos ou mesmo em agrupações que, por enquanto, se manifestam contra a reeleição, como é o caso do PPB do prefeito de São Paulo, Paulo Maluf. A conta se completa com 50 dos 100 deputados do PMDB. "Esse é o número com que conta hoje a reeleição", ouviu a Folha. Efeito eleitoral Tal certeza desaparece, no entanto, quando se tenta adivinhar a contabilidade não agora, mas no momento, ainda indefinido, em que ocorrer de fato a votação. A opinião predominante no Congresso é a de que só os resultados do pleito municipal tornarão mais claro o cenário. A avaliação majoritária é a de que uma eventual vitória de Celso Pitta (PPB), já no primeiro turno, daria forte ímpeto ao bloco contrário à reeleição. Por uma motivo simples: o impacto da vitória em São Paulo faria de Maluf o único candidato definitivamente posto entre todos os grandes e médios partidos. O PSDB só terá candidato natural após a definição da reeleição e se ela for aprovada (será FHC). PFL e PTB não têm candidato tido como forte. O PMDB está completamente rachado. Mesmo a esquerda, capitaneada pelo PT, ensaia uma frente, por enquanto excessivamente embrionária. O fator PMDB Maluf candidato equivaleria a uma expectativa de poder, o que tenderia a reforçar a fidelidade no PPB à tese anti-reeleição. Hoje, o próprio Maluf calcula que lhe são fiéis de 70 a 75 dos 99 deputados do partido. Além disso, atrairia deputados de outras agrupações e de escassa fidelidade partidária. Já uma derrota de Maluf em São Paulo produziria efeito inverso, logicamente. Há no Congresso quem imagine que mesmo o fato de Pitta precisar de um segundo turno já enfraqueceria Maluf, ao menos do ponto de vista da votação da reeleição. Por fim, há o fator PMDB. O partido caminha para uma derrota fragorosa. "Exceto Fortaleza (CE), não parece haver perspectivas de o partido ganhar em outra capital", comenta Cesar Maia (PFL), prefeito do Rio de Janeiro. Confirmada essa expectativa, o comportamento dos cem peemedebistas da Câmara fica absolutamente imprevisível. As opiniões, entre políticos ouvidos pela Folha, chegam a extremos opostos. Há quem acredite que os parlamentares peemedebistas seriam cooptados pelo governo federal e passariam a apostar na reeleição de FHC, para recriar uma expectativa de poder. E há que os apostam em que a eventual entrada do ex-presidente Itamar Franco no partido funcionaria como reaglutinador, nesse caso contra a reeleição. É por tudo isso que o deputado Inocêncio de Oliveira (PE), líder do PFL na Câmara, avisa: "Nenhum resultado eleitoral será tão dissecado como o de 3 de outubro". Texto Anterior: Quem usa o trabalho infantil Próximo Texto: Por dia, 20 se aposentam no Banco Central Índice |
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