São Paulo, sábado, 7 de setembro de 1996
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Saúde quer mais que o dobro de verbas

DANIELA FALCÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O relatório final da 10ª Conferência Nacional de Saúde, encerrada ontem, reivindica que o governo brasileiro assuma o compromisso de investir de 8% a 10% do PIB (Produto Interno Bruto) em saúde. Hoje, são investidos 3,5%.
O documento, de 80 páginas, foi discutido por cerca de 1.400 delegados por mais de 12 horas ontem.
O próprio ministro Adib Jatene (Saúde) disse no encerramento que o governo federal deve investir mais no setor e defendeu a municipalização do SUS (Sistema Único de Saúde). Foi aplaudido de pé.
O relatório sugere a aprovação imediata da PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 169, que garante que 30% dos recursos da seguridade social e, no mínimo, 10% dos Orçamentos da União, dos Estados e dos municípios sejam investidos em saúde.
Se a PEC for aprovada, o orçamento anual do Ministério da Saúde será de R$ 47 bilhões (R$ 32 bilhões vindos da seguridade social e R$ 15 bilhões da arrecadação federal, estadual e municipal). Hoje, o orçamento é de R$ 9 bilhões.
"O grande problema do SUS não é má gestão, embora ainda haja problemas nessa área. É insuficiência de financiamentos. Essa é a grande mensagem da 10ª conferência", disse Carlos Alberto Komora, representante das entidades filantrópicas.
Taxar cigarro e álcool
Além dessa arrecadação fixa, o relatório final propõe a criação de fontes de recursos variáveis para a saúde. A principal delas viria da taxação sobre produtos que comprovadamente fazem mal à saúde, como fumo, bebidas alcoólicas e refrigerantes.
Também foi proposta a taxação das empresas de medicina de grupo e seguro-saúde e a destinação ao setor de parte do dinheiro de loterias, pedágios e bingos.
Aborto
A maior polêmica da plenária final foi sobre a legalização do aborto. A proposta de tornar o aborto legal foi derrotada por pequena margem de votos.
Como a contagem é feita visualmente (os delegados levantam seus crachás), houve início de tumulto porque os defensores da legalização não aceitaram o resultado inicialmente anunciado.
"Os fundamentalistas que são contra o aborto adotaram a tática de votar com histeria, gritando e balançando os crachás. Isso confunde quem está na mesa, dando a impressão de que eles são mais numerosos", disse Clair Coelho, do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher.
"Fico feliz que ainda haja gente que acredita na vida. O feto não é uma verruga que se tira porque incomoda", afirmou Zilda Arns, coordenadora da Pastoral da Criança.

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