São Paulo, sábado, 7 de setembro de 1996 |
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Arrogância são-paulina não merece Parreira
MÁRIO MAGALHÃES
"Então, Parreira, o que você diz agora àqueles que o criticam desde as eliminatórias?", provoquei. "Não digo nada", respondeu Parreira. "Mas, depois de todas as polêmicas, você não tem nada a declarar, nada para a história?", insisti. Tranquilo, ameaçando um sorriso, ele encerrou a conversa: "É o meu jeito. Como diz o Frank Sinatra, 'it's my way"'. Juca Kfouri tem escrito que o ganhador não tem a dimensão humana do vencedor, e é nos momentos épicos que um homem revela suas grandezas e misérias. A manifestação dos torcedores na derrota para o Guarani fez lembrar a reação de Parreira em seguida à maior conquista de sua vida. Mesmo com a derrota, o São Paulo se manteve na liderança do Brasileiro, até aquela noite, depois de um Paulista de humilhações, em que ficou a anos-luz do Palmeiras. Mas a torcida achou por bem vaiar Parreira e gritar o nome do gênio Telê. Para os de fraca memória, recordo que o São Paulo se afundava numa decadência abissal, até a chegada da dupla Parreira-Moracy. É verdade que ele tem jogadores mais talentosos agora, mas teve o mérito de moldar, com as fragilidades próprias do início, um time que só agora perdeu a invencibilidade. É como se os ensaios tivessem começado em plena temporada. Aos poucos, o espetáculo ganha contornos mais bem-acabados, o entrosamento cresce, a entrega é maior. E que ninguém acuse Parreira de covardia contra o Guarani -o São Paulo só não marcou por causa da noite memorável do goleiro Hiran. Os são-paulinos que vaiaram o técnico lembram as famílias decadentes que imaginam ser hoje o que foram um dia. O direito democrático às vaias e à manifestação é inalienável. Mas não se pode querer que as consciências sucumbam à maioria -isso se a maioria pensar como os que foram ao Morumbi. A maioria erra, e muito, como comprova fartamente a história mundial. Os presunçosos e arrogantes que vaiaram Parreira desrespeitaram também Telê, numa falsa homenagem. Seu nome não é para ser evocado como provocação ao treinador de plantão, mas para ser incensado eternamente como aquele que fez brilhar no começo dos anos 90 a combinação sedutora e explosiva da arte com a eficiência. Parreira também tem seu lugar na história do futebol nacional. Esmagou, junto com Cláudio Coutinho, o conceito de que os intelectuais não vingariam no futebol, mesmo com um jogo ideologicamente menos fascinante que o de Telê. A torcida do São Paulo, nunca é demais lembrar, mesmo no auge de Telê, só ia ao estádio nas decisões, abandonando a equipe à própria sorte, sem a generosidade solidária. Agora, no primeiro tropeço, deu para vaiar o técnico. Talvez porque não mereça mesmo a grandeza de Parreira. Matinas Suzuki Jr., que escreve às terças, quintas e sábados, está em férias Texto Anterior: Seldon foi campeão na cadeia Próximo Texto: Anteontem Índice |
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