São Paulo, sábado, 7 de setembro de 1996
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Atores falam do horror de ser famoso

Livro traz 500 depoimentos

MAURICIO STYCER
DA REPORTAGEM LOCAL

É como se você vivesse um terremoto todo dia, diz a atriz Kim Basinger. É como ter sempre comida a mais no prato, avalia a atriz Emma Thompson. É humilhante, diz o ator John Malkovich.
Acredite: eles estão falando da fama, o objeto do desejo de todo ator iniciante -e não apenas deles.
Um livro lançado neste ano nos EUA mostra que a fama pode ser venenosa, tóxica e fazer mal a quem normalmente lutou muito para conseguir alcançá-la.
"Toxic Fame", do jornalista Joey Berlin (Visible Ink Press, US$ 19,95), traz depoimentos de quase 500 celebridades sobre os diversos problemas que enfrentam por terem se tornado figuras públicas.
Perda de privacidade, solidão, dificuldades com os filhos, contatos agressivos com fãs: a julgar por "Toxic Fame", a vida de um ator hollywoodiano é um inferno.
"A fama é tóxica, é uma doença que impede as pessoas famosas de se sentirem bem em público. Em casos extremos pode ser até fatal", escreve Berlin, um repórter de TV especializado em show business.
"O cara correndo na sua direção provavelmente quer apenas lhe cumprimentar, mas ele pode ser Mark Chapman", acrescenta Berlin, lembrando do fã alucinado que assassinou John Lennon após pedir um autógrafo, à porta do prédio do músico, em 1980.
Tema de inúmeros filmes, o pesadelo de ser perseguido por um fã acaba de render mais um, com um título que vai direto ao ponto: "The Fan" ("O Fã").
Dirigido por Tony Scott, com Robert De Niro e Wesley Snipes, o filme conta a história de um torcedor de beisebol apaixonado por um famoso jogador e que transforma a vida do seu ídolo num inferno (leia texto ao lado).
Na visão de uma pessoa não-famosa, as reclamações das celebridades ouvidas por Berlin em seu livro podem até ser vistas como charme, choramingo de pessoas mimadas, que já têm tudo na vida.
Mas, segundo Berlin, a fama realmente pode ser tóxica. Um estudo recente teria indicado que a expectativa de vida de uma celebridade é de 58 anos, enquanto do norte-americano médio passa dos 70. A chance de uma celebridade se suicidar é quatro vezes maior que a do padrão da população, diz ele.
"A coisa boa de ser Steve Martin é que você pode conseguir mesa em restaurantes na hora em que quiser. O ruim é tudo mais", diz o ator de "O Panaca".
Paul Newman conta que um de seus maiores pesadelos é ouvir sempre um mesmo pedido das fãs: "Tire os seus óculos escuros para que possamos ver os seus belos olhos azuis". Quando está de bom humor, o ator costuma responder: "Desculpe, mas se eu tirar meus óculos, minhas calças caem".
Não que os atores ouvidos em "Toxic Fame" sejam completamente ingratos com os fãs, que afinal os ajudaram a ficar ricos e famosos. Mas eles gostariam de ser ricos e famosos sem ter, como já aconteceu com Sean Connery, de expulsar fotógrafos escondidos no banheiro onde ele queria ir.
Jornalistas e fotógrafos saem mal de "Toxic Fame": "Entrevistei um monte de jornalistas antes de interpretar um no cinema. Não achei um que permitiria ser entrevistado por um outro jornalista. Ha ha ha", diz Nick Nolte.
"O ideal seria eu poder fazer o que faço e ter uma outra cara para poder usar na rua", diz Harrison Ford, um dos mais reclusos atores de Hollywood. "Eu gosto de ir a um museu e ver os quadros, não ir a um museu e assinar autógrafos".

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