São Paulo, sábado, 7 de setembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Dia da Pátria

LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

As fanfarras e os desfiles de escolas com bandeiras desfraldadas percorrem as ruas. Nas cidades maiores, as paradas e homenagens militares comemoram o Dia da Pátria, a nossa independência.
Podemos nos perguntar sobre o que fazer para o Brasil tornar-se a "pátria amada", na qual todos os seus filhos cumpram seus deveres e tenham seus direitos respeitados. Na recente convocação do "Sínodo da América", o papa João Paulo 2º aponta o caminho da solidariedade, fruto da conversão e da comunhão.
Neste dia 7 de setembro, converge para o santuário de Nossa Senhora Aparecida a "Romaria dos Trabalhadores". Na mesma ocasião, será ouvido o "Grito dos Excluídos". É um clamor pela justiça e paz que deverá ser acolhido por todos e traduzir-se em atitudes de solidariedade humana e cristã.
É o momento de procurarmos concretizar o amor à pátria com medidas concretas em bem dos que ainda não usufruem das condições para o exercício de sua dignidade e cidadania.
Alguns pontos são de evidente urgência e requerem a colaboração de todos nós. A primeira preocupação é a de que o governo e a sociedade brasileira encontrem as decisões acertadas para uma justa reforma agrária. Por que esperar tanto?
Se há um país que pode estabelecer uma adequada ordem jurídica e política agrícola, de modo a oferecer terra e trabalho para todos que deles necessitam, é o Brasil.
As invasões, com o lamentável conflito que causam, são consequência dessa lentidão nas decisões políticas. O Congresso Nacional precisa se dedicar à questão agrária, abrindo perspectivas para o Executivo e a cooperação das entidades civis. Em Belo Horizonte, nesta semana, acaba de se realizar um amplo debate sobre a política estadual de reforma agrária, que pode servir de exemplo para outros Estados.
Outro ponto inadiável é o de assegurar melhor atendimento à saúde do povo. Em Brasília está reunido o 10º Congresso Nacional de Saúde. Por que não começar já com a organização de pronto-socorro e ambulatórios em todos os municípios às expensas das prefeituras, recorrendo, onde possível, à colaboração das Santas Casas?
Não menos urgente é a situação dos presídios. A igreja deseja cooperar, lançando a Campanha da Fraternidade-1997 sobre a dramática condição dos presos. Basta acompanhar as rebeliões suscitadas pelo acúmulo de presos nas celas e pelo descaso no atendimento jurídico, agravados pela violência policial e entre os detentos, para compreender a necessidade de um atendimento humanitário.
Estas medidas e outras poderão contribuir para um programa nacional de repúdio à violência, incluindo, além de reformas sociais, a luta contra a impunidade e o desarmamento coletivo.
Que o bom senso e o patriotismo de nossos congressistas afastem definitivamente a tentação de aprovar no Brasil os cassinos que, sob a ilusão de parvos benefícios, causam enormes e incontroláveis males morais.
No Dia da Pátria, unamos nossas preces confiantes, atraindo as bênçãos de Deus sobre o povo e os governantes, assumindo o compromisso de promover o bem comum.

D. Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.

Texto Anterior: De uma vez por todas
Próximo Texto: Situação de hoje é diferente
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.