São Paulo, sábado, 7 de setembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Riscos econômicos

JULIO MARIA M. BORGES

A recente crise verificada entre EUA e Iraque está afetando os preços do petróleo no mercado internacional devido às incertezas que cria com relação ao suprimento do produto. Contudo o conflito armado EUA-Iraque, não tendo fundamentos relevantes de curto prazo para sua continuidade, deveria ter efeito passageiro sobre os preços.
Aliás, os conflitos armados no Oriente Médio que vêm ocorrendo desde a década passada têm tido como consequência duradoura para a sociedade a lembrança de que aquela região -principal exportadora e detentora da maioria das reservas de petróleo no mundo- tem um potencial permanente de instabilidade política, por mais que os EUA tenham assumido o papel de guardião da área.
Por outro lado, existe expectativa de elevação de preços do petróleo no curto e médio prazos por razões econômicas.
Em primeiro lugar, e devido ao conflito atual, o Iraque continuará fora do mercado, mantendo a oferta reduzida em no mínimo 600 mil barris/dia, o que representa cerca de 1% do total.
Além disso, os estoques nos principais países industrializados estão relativamente baixos (suficientes para 60 dias de consumo), e a demanda está em alta, devido ao inverno que se aproxima para os países do hemisfério Norte. Espera-se, portanto, no curto prazo, uma sustentação de preços do petróleo em níveis relativamente altos.
No médio prazo, é esperada uma continuidade na elevação dos preços devido a um desequilíbrio temporário entre o crescimento do consumo e a possibilidade de crescimento da oferta.
A AIE (Agência Internacional de Energia), no seu relatório "World Energy Outlook", de 1995, admite que o preço do petróleo possa atingir US$ 28 o barril até 2005. A partir daí, espera-se uma estabilidade nos preços, devido ao ajuste esperado entre oferta e demanda.
A AIE admite ainda que a dependência de petróleo por parte da Opep aumente neste período. Não se prevê nenhum choque de preços, até porque os países da Opep descobriram que existe uma lei de oferta e procura que não admite abusos de poder econômico em ambiente de liberdade e competição.
Finalmente, vale lembrar que essa situação é bem vista pelos países produtores, pois os níveis de preços verificados nos últimos anos (eliminando o efeito da inflação mundial) têm sido inferiores àqueles de 1973, quando ocorreu o primeiro choque do petróleo. Este fato tem prejudicado sobremaneira as condições socioeconômicas desses países.

Texto Anterior: Situação de hoje é diferente
Próximo Texto: Petróleo não é laranja
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.