São Paulo, domingo, 8 de setembro de 1996
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Três problemas paulistas

CELSO PINTO

Existem três problemas complicados em São Paulo, cujas soluções passam por Brasília e podem acabar convergindo: o Banespa, a Nossa Caixa-Nosso Banco e a dívida mobiliária (em títulos) do governo paulista, de R$ 16,9 bilhões no final de julho.
O presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, admite a hipótese de se examinar uma solução conjunta para o Banespa e a Nossa Caixa. O Estado de São Paulo deve mais de R$ 18 bilhões ao Banespa e perto de R$ 4 bilhões para a Nossa Caixa.
Qualquer solução que implicasse transformar as duas instituições numa única, contudo, só seria tocada depois das eleições. A partir de outubro, se o candidato tucano José Serra não conseguir passar para o segundo turno. Isso porque o Banespa tem 27 mil funcionários e 650 agências, a Nossa Caixa tem 12 mil funcionários e 550 agências, e qualquer junção dos dois implicaria um enorme enxugamento, algo que não combina com eleição.
A vantagem, para São Paulo, seria resolver os dois problemas. A Nossa Caixa tem feito um esforço de recuperação, mas a dívida de quase R$ 4 bilhões que o governo paulista tem com ela é uma armadilha. A exemplo do que aconteceu com o Banespa, a Nossa Caixa cobra juros altos pela dívida, recebe uma fração ínfima e capitaliza o resto. A tendência é esta dívida tornar-se tão impagável quanto a do Banespa.
Uma hipótese seria entregar o Banespa ao governo federal. Os ativos bons seriam absorvidos pela Nossa Caixa e os ruins ficariam com o governo. Na negociação, também as dívidas paulistas junto à Nossa Caixa seriam absorvidas pelo governo federal. Sobraria um banco limpo, que poderia operar com o nome de Nossa Caixa ou Banespa.
Pelos termos da medida provisória dos bancos estaduais, como São Paulo ficaria, de todo modo, com um banco estadual, seria preciso pagar metade da dívida com ativos. Se fosse considerada a dívida tanto do Banespa quanto da Nossa Caixa, mais de R$ 22 bilhões, ficaria complicado encontrar ativos suficientes.
Está claro, contudo, que haveria flexibilidade de Brasília para discutir um acerto deste tipo. Além disso, o governador Mário Covas estaria resolvendo dois problemas, e não um.
Aí entra, também, a questão da dívida mobiliária. Os títulos estaduais foram absorvidos pelo BC em 94, sob a forma de troca temporária. Desde então, seu valor deu um salto: no caso de São Paulo, 133% de junho de 94 a julho de 96.
A dívida tornou-se impagável, os Estados começaram a discutir uma solução definitiva com Brasília e algo avançou. Loyola diz que a solução pode passar pelo refinanciamento desta dívida a longo prazo, com um certo desconto para os Estados, sob a forma de juros menores que os de mercado. Os Estados, contudo, teriam de dar garantias reais para parte do pagamento. O acerto total, portanto, envolveria a renegociação de quase R$ 40 bilhões, e São Paulo teria que oferecer ativos para cobrir boa parte do débito. Parece quase impossível de botar em pé, mas é preciso considerar que a limpeza de dívidas desta operação interessaria tanto a São Paulo quanto a Brasília.
A parte da junção Banespa-Nossa Caixa, contudo, pode ser muito mais complicada do que parece. Se viesse sob a forma de absorção do Banespa pela Nossa Caixa, os acionistas minoritários do Banespa sairiam perdendo. Além disso, existe um movimento ativo e organizado de defesa do Banespa, que certamente vai resistir à idéia. Eles costumam lembrar que o Banespa tem 87 anos, 2,9 milhões de correntistas e teria hoje R$ 12 bilhões de recursos de terceiros. A Nossa Caixa, por sua vez, costuma usar o argumento de que, com R$ 10 bilhões de ativos, tem uma estrutura muito mais enxuta: 23 funcionários por agência, índice comparável ao de outros bancos privados de porte.
Uma fusão, velha idéia que o governador Mário Covas já estudava antes de assumir o governo, seria mais palatável, mas abriria espaço para montar uma engenharia aceitável em Brasília? A briga mal começou e promete lances explosivos.

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