São Paulo, domingo, 8 de setembro de 1996
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Brasileiro prostitui a irmã e a mulher

JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, NO PARAGUAI

O brasileiro Luiz Moreira, 25, é dono de um prostíbulo em Encruzo Naranjal (pequeno povoado à margem da rodovia 6).
Sua mulher, D., 16, e sua irmã, Márcia Moreira, 21, prostituem-se no local.
Além de três paraguaias (duas menores de 18 anos), ele mantém no local nove brasileiras, todas trazidas do município de São Miguel do Iguaçu, no extremo oeste do Paraná. Apenas sua irmã tem mais de 18 anos.
Ele afirma que "não tem como evitar" que meninas trabalhem em seu estabelecimento. "Elas sempre aumentam a idade para trabalhar. Depois, há a preferência dos clientes por meninas."
Os prostíbulos paraguaios são todos parecidos. Uma luz negra sempre à entrada, acesa noite e dia, serve como sinal para que os clientes do sexo identifiquem o local.
No interior dos prostíbulos não existem mesas. Apenas sofás e cadeiras para os frequentadores e um balcão onde se vendem bebidas.
Durante o dia, ficam praticamente desertos. Mas basta surgir um cliente para que meninas e adolescentes apareçam no salão, vestidas com roupas comuns -calça, camiseta, às vezes uma saia curta.
Os proprietários são diretos, mostrando e dando um perfil dos tipos de mulher que possuem no local.
As menores de 15 anos são as mais anunciadas.
Taxa extra
A primeira reação de uma menina é convidar o cliente para dançar ou tomar bebidas -elas ganham 10% sobre o consumo dos clientes.
As músicas, sempre em volume muito alto, são de cantores sertanejos ou populares do Brasil.
Havendo interesse do cliente em um programa, primeiro combina-se o preço com a moça, depois paga-se uma taxa pelo uso dos minúsculos quartos, geralmente nos fundos do salão de dança.
Para conseguir levar a escolhida a um programa fora do prostíbulo, o cliente tem de pagar uma taxa extra ao dono.
Tapeando os pais
Agricultor no município de Naranjal, o brasileiro C.L., 38, é um freguês habitual do prostíbulo.
Ele confirma que os frequentadores busquem meninas e adolescentes.
Segundo L., "quanto mais novinha, melhor, já que o risco de pegar uma doença é bem menor". Ele disse que as brasileiras são preferidas em relação às paraguaias "porque são mais branquinhas e limpinhas".
Moreira nega que explore as meninas. Segundo ele, cada uma ganha 10% sobre a bebida consumida pelos clientes e "cobra o preço que quer para ir para a cama, sem interferência".
A Agência Folha apurou que os frequentadores do local pagam o valor combinado pelo programa diretamente a Moreira, além dos R$ 10 (20 mil guaranis) pelo uso do quarto.
A irmãs S., 16, e A., 13, estão no local sem o conhecimento de seus pais, moradores em São Miguel do Iguaçu. "Eles pensam que eu trabalho em uma lanchonete em Foz e que minha irmã é doméstica", afirma S..
Segundo ela, sua irmã mais nova está há três meses na prostituição em Encruzo Naranjal. "Eu estou há duas semanas aqui. Fui convencida por ela."
As irmãs esperam ganhar um média de R$ 350 por mês. "Foi o que ganhei no período em que estou aqui; lá no Brasil, nem serviço eu tinha", afirma A.. As irmãs cobram uma média de R$ 25 (50 mil guaranis) por programa.
F., 17, "chegando aos 18", afirma que vive como prostituta no Paraguai "pela falta de oportunidade no Brasil".
Funcionária de uma lanchonete em São Miguel do Iguaçu, ela teve um filho há um ano e não mais conseguiu emprego. "Aqui eu tenho como sustentar meu menino, sem passar a vergonha de ser descoberta por parentes na prostituição", declara. Segundo F., seu preço por programa varia, "de acordo coma a cara do freguês", entre R$ 25 (50 mil guaranis) e R$ 50 (100 mil guaranis).
(JM)

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