São Paulo, domingo, 8 de setembro de 1996 |
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Nancy, 26, teve de se explicar a policial
AURELIANO BIANCARELLI
O guarda olhou os documentos e não entendeu nada. O nome masculino e a foto "andrógina" -tirada há dez anos- não batiam com os traços e as pernas que Nancy exibia. "Tive de explicar várias vezes que eu era um transexual e o que era isso. No final, ele até brincou. 'Se não me contasse, poderia até casar com você."' Nancy diz que desde criança sempre agiu e se comportou como mulher. Nasceu em um bairro paulistano, onde viveu até o ano passado. Lá, todo mundo sabia de sua história. No novo bairro, ninguém desconfia que Nancy tenha nascido homem e ainda tenha os órgãos genitais masculinos. Nem o atual namorado, com quem está há dois meses, sabe disso. Artifícios Nancy diz que os transexuais usam artifícios para tocar o namoro até ficarem à vontade para contar a verdade. "Virei especialista em dar tapas na mão. Pode beijar, tocar os seios, mas desceu um pouco mais leva um 'tum' na mão. Eu não quero magoar meu namorado, mas a família toda já me conhece e não sei como sair dessa." Com os namorados anteriores também não deu certo. "Fico sempre achando que vão aceitar, mas a maioria não aparece mais. Um deles queria ficar comigo, mas a família só falava em casamento. Não teve jeito." HC Nancy conta que desde os 13 anos se veste como mulher. Evita situações onde precisa mostrar os documentos e quase não usa seu talão de cheques. Desde 1988, ela participa do grupo de transexuais que se reúne no Hospital das Clínicas. Nancy mora com a mãe e tem um casal de irmãos mais velhos, que não vê há tempos. Segundo ela, é a mãe quem lhe dá força. "Ela costuma dizer que perdeu um filho, mas ganhou uma filha." (AB) Texto Anterior: Maiane é enfermeira e sonha com cirurgia Próximo Texto: Mulheres 'chegam junto' e assustam homens Índice |
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