São Paulo, domingo, 8 de setembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Renda pára de crescer, mas ainda se mantém estável

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

O poder aquisitivo das pessoas que trabalham na Grande São Paulo avançou bastante nos primeiros meses do real, parou de crescer em meados de 95 e vem se mantendo em certo equilíbrio -mesmo porque a inflação está em queda.
Pode-se chegar a esta conclusão a partir de dados colhidos por duas instituições independentes que fazem pesquisas na região, a Fundação Seade e o Dieese, comparando-se os dois períodos marcantes do plano: economia em expansão até o primeiro semestre de 95 e desaquecimento a partir daí.
Entre a população ocupada, houve crescimento real (acima da inflação) de 18%, se comparada a renda média do primeiro trimestre do real (julho/setembro de 94) com a do trimestre encerrado em setembro de 95.
Nesse universo, os assalariados aparecem com ganho de 14,6% no mesmo período, enquanto os não-assalariados -como autônomos, profissionais liberais e empregados domésticos- conseguem ganho real médio de 25,7%.
Já na segunda fase do plano -segundo trimestre de 96 contra o segundo de 95-, a renda média dos ocupados cai 0,63%, influenciada pela queda de 2,85% dos não-assalariados, embora nesse grupo haja muita oscilação e crescimento nos últimos períodos (ver gráfico).
O rendimento dos assalariados permanece mais equilibrado a partir de meados de 95, com leve alta de 0,26% do segundo trimestre daquele ano para o segundo de 96.
Troca de inflator
Esses resultados não coincidem com os divulgados mensalmente pelo Seade-Dieese porque o inflator utilizado, devido ao próprio convênio, foi sempre o da entidade intersindical.
A pedido da Folha, a Fundação Seade refez os cálculos, usando porém o IPC da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas). Quando o inflator é o ICV do Dieese, os resultados apontam perda real de renda até mesmo no primeiro ano do plano.
Não se trata de suspeição. É que características metodológicas próprias do ICV do Dieese levaram esse índice a se distanciar muito de todos os outros. Desde julho passado, aliás, o cálculo vem sendo feito por uma nova POF (Pesquisa de Orçamentos Familiares), a primeira realizada após o real (94/95).
Se o antigo ICV do Dieese refletisse de forma mais realista a inflação em São Paulo, os juros reais das aplicações financeiras no país não seriam os mais altos do mundo, estratosféricos, não estariam "na lua", como se diz.
O ICV do Dieese acumulou 95,52% nos dois primeiros anos de real, quando o over-CDI (juro interbancário) e o over-Selic (títulos públicos), por exemplo, ficaram em torno de 125%. O juro real teria sido de 15% em dois anos, de 0,6% ao mês, ou 7,27% ao ano.
Aplicações em fundos de renda fixa -os antigos commodities e os atuais FIFs de 60 dias- teriam dado juro real zero em dois anos, de forma líquida, sem que investidores se apercebessem disso.
Renda e custo
O IPC da Fipe também possui seus problemas metodológicos e uma POF defasada, anterior ao Plano Real, mas sua taxa é bem mais realista se o parâmetro forem os juros. A Fipe registrou 56% nos dois primeiros anos do real.
A taxa elevada do ICV do Dieese provavelmente refletiu o custo de vida mais próximo ao da classe média que paga aluguel e usa muitos serviços, cujos preços sofreram forte pressão desde o início.
O próprio IPC da Fipe, num balanço pós-real feito na última semana, mostra 58,49% para o índice geral até agosto/96, e nada menos do que 492,81% para aluguel, 119,31% para serviços médicos e 114,84% para despesas com escola.
O que é renda para uns, como empregados domésticos, é custo para outros, caso da classe média que emprega esses profissionais.
Entre o segundo semestre de 94 e o primeiro de 96, o rendimento real dos domésticos cresceu 61,31%, bem mais que o das demais categorias.

Texto Anterior: Ribeirão e Araraquara podem ter Peugeot; Revap volta a fornecer gás após 25 dias
Próximo Texto: Contenção da cesta básica beneficia os mais pobres
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.