São Paulo, domingo, 8 de setembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Senado dos EUA discute oficializar inglês

PATRICIA DECIA
DE NOVA YORK

Está em discussão no Senado norte-americano lei para transformar o inglês em língua oficial do país. A medida, que pode parecer inofensiva à primeira vista, tem fortes opositores, principalmente entre os dois maiores grupos de imigrantes residentes nos EUA: latino-americanos e asiáticos.
"É uma medida que reflete o sentimento antiimigrantes, principalmente contra latino-americanos nos Estados Unidos", afirma Thomas Saenz, 30, advogado da Maldef, uma entidade que representa latino-americanos em questões judiciais e faz lobby junto ao Congresso americano.
Unidade
Os defensores do "english only" (somente inglês) dizem que a adoção legal de uma língua oficial é necessária para garantir a unidade do país. Há dois grupos que fazem campanha a favor da medida: US English (inglês dos EUA) e English First (inglês em primeiro lugar).
Seu principal argumento é que a inexistência de uma língua oficial divide o país e pode até chegar a provocar conflitos, como alguns que já ocorreram no caso do Canadá e do Sri Lanka.
Os opositores da medida dizem que a unidade dos norte-americanos e o uso do inglês não estão ameaçados no país, e, portanto, a lei é desnecessária.
Para isso, contam com estatísticas que mostram que 95% dos moradores do país têm proficiência em inglês e que menos de 1% dos comunicados oficiais publicados pelo governo estão em outros idiomas (veja quadro nesta página).
A lei atual, que está no Senado e já foi aprovada pela Câmara dos Deputados, proíbe publicações oficiais do governo em outras línguas -inclusive informativos sobre eleições- e exige proficiência em inglês para os funcionários de qualquer serviço público no país.
Veto
Para entrar em vigor, ainda precisa de aprovação no Senado, uma nova aprovação na Câmara e sanção do presidente norte-americano. Bill Clinton já declarou que vai vetar a medida.
"Se for aprovada, essa lei vai apenas isolar e pode até ameaçar quem não têm conhecimento suficiente de inglês para se informar sobre esses assuntos. Proibindo o acesso às informações sobre a eleição em outras línguas, diminui-se a participação política desses seguimentos da sociedade", afirma Jaime Zapata, 43, diretor para legislação da Associação Nacional para Educação Bilíngue.
Para Zapata, o componente antiimigrante da proposta também é evidente. "Está cada vez mais difícil atingir os negros e as mulheres neste país. Então, alguns radicais se voltam contra o maior grupo de estrangeiros que, na sua opinião, ameaça o seu bem-estar", afirma.
Constituição
O outro principal argumento dos que se opõem à medida é que o estabelecimento de uma língua oficial contraria a Constituição norte-americana, que prevê a liberdade de expressão.
Além disso, eles dizem que milhões de cidadãos norte-americanos moradores de Porto Rico e das reservas indígenas no país serão obrigados a abandonar as suas culturas originais.
O movimento para a adoção do "english only" começou em Miami, no condado de Dade, na Flórida, em 1978.
Somente espanhol
A norte-americana Emmy Shafer iniciou uma série de protestos porque não conseguia se comunicar com nenhum dos atendentes na repartição pública de Dade, já que eles falavam apenas espanhol.
Como resultado de seu movimento, foi aprovada uma lei municipal, em 1980, proibindo que dinheiro do governo fosse usado para a tradução de documentos ou sinais públicos.
Mas, em alguns casos, há um evidente exagero nas determinações pró-inglês. Um juiz de Amarillo, no Texas (sul), chegou a condenar uma mulher por abusar de seus filhos porque ela falava apenas espanhol com as crianças em casa.

Texto Anterior: Reunificação pode custar mais de US$ 3 trilhões
Próximo Texto: Medida estimula estudo da língua, dizem defensores
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.