São Paulo, quarta-feira, 11 de setembro de 1996 |
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Sítio planta morango sem agrotóxico
JOSÉ ALBERTO GONÇALVES
O agrônomo José Dahir, 30, iniciou o plantio orgânico de morangos há três anos no sítio de sua família, o Barra do Pinhal, em Jarinu (70 km ao norte de São Paulo). Ele não utiliza adubo químico para nutrir as plantas, nem agrotóxicos para combater pragas. A aplicação de agrotóxicos é intensa no cultivo convencional, devido à alta suscetibilidade do morangueiro a fungos e insetos. Por isso, o morango é um produto com cultivo difícil na agricultura orgânica, que dispensa a adubação química e o uso de agrotóxicos. Para adubar o solo de sua lavoura, Dahir prepara um composto orgânico, à base de cama de frango (esterco mais serragem), farinha de osso e bagaço de cana. O composto orgânico melhora a estrutura do solo, pois possui vários nutrientes que aos poucos tornam o solo mais rico, o que ajuda a planta a ficar mais resistente a doenças e pragas. Para combater os fungos, ele aplica um fungicida, a calda bordaleza, feito com sulfato de cobre e cal virgem, cujo uso é permitido pela AAO (Associação de Agricultura Orgânica). Também são efetuadas pulverizações semanais com o supermagro, um adubo foliar à base de esterco fresco de gado e micronutrientes que reforça a resistência da planta a insetos e fungos. Outro cuidado tomado por Dahir é fazer rotação de culturas anualmente. "A aceitação do produto tem sido excelente", diz o agrônomo. Sua maior clientela é a das feiras de produtores orgânicos, realizadas em São Paulo e Campinas. Este ano, Dahir chegou a entregar seus morangos em supermercados, como o Paes Mendonça. Como ele é praticamente o único agricultor a comercializar morango orgânico na Grande São Paulo, a oferta escassa mantém o preço perto dos R$ 3 a caixa, pelo menos o dobro do convencional. Animado com a procura crescente pelo produto, Dahir dobrou este ano para 2 t sua produção, em 1.200 m2 do sítio de 10 ha. Além de morango, Dahir cultiva sem adubo químico e agrotóxicos várias hortaliças, como alface, cenoura e beterraba. Este ano, ele montou uma estufa de 800 m2 para a produção orgânica de tomates e pimentões, da família das solanáceas. Segundo o agrônomo, as solanáceas são muito suscetíveis a doenças. Por isso, a estufa tem um rígido controle de temperatura. O cultivo orgânico já invadiu o pequeno sítio vizinho, de 2 ha, de Maria Deolina Barbosa de Souza, 36, que há três anos só plantava milho e trabalhava em outras lavouras como empregada. Colhendo hortaliças no sítio de Dahir, ela se interessou pela agricultura orgânica. Dahir ajudou-a a implantar sua horta há dois anos. "Melhorei muito minha renda com a horta orgânica", diz Maria. "A vantagem de vender nas feiras da AAO é a ausência de intermediários, o que nos permite obter um preço melhor", diz Maria. O pesquisador Francisco Antonio Passos, do IAC (Instituto Agronômico de Campinas), diz que a produtividade do morango orgânico é baixa, cerca de 20 t/ha. Aurélio Carpalhoso de Abreu, agrônomo que dá consultoria sobre morango orgânico na AAO, afirma que o rendimento é pequeno no primeiro ano de plantio. A partir do terceiro ano, quando a terra está melhor nutrida, a produtividade do morango sobe para 70% a 80% da atingida no plantio convencional, com a vantagem de conseguir preços mais altos. Onde saber mais - AAO, tel. (011) 263-8013. Próximo Texto: Uso inadequado; Desperdício tecnológico; Reconciliação; Mote; Agricultura familiar; Café por computador; Agrotóxicos; Exceção; Adubo com lucro; Alta favorece; Mourão de aço; Investimento Índice |
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