São Paulo, quarta-feira, 11 de setembro de 1996
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Governo manobra na isenção do ICMS

LUCAS FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Os presidentes do Congresso, José Sarney (PMDB-AP), e da Câmara dos Deputados, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), planejam atropelar a Constituição para aprovar no Senado o projeto que elimina a cobrança do ICMS sobre exportações.
Pelo acordo, os senadores modificariam o projeto, e as mudanças teriam caráter definitivo. Ou seja, o projeto alterado deixaria de voltar à Câmara, conforme determina a Constituição.
A estratégia conta com o apoio do presidente Fernando Henrique Cardoso, que tem interesse na aprovação rápida da matéria.
O parágrafo único do artigo 65 da Constituição diz: "Sendo o projeto emendado, voltará à Casa iniciadora".
Dessa forma, alterações feitas pelos senadores provocariam nova apreciação do projeto por parte dos deputados, já que a matéria teve origem na Câmara.
O que a maioria dos senadores quer fazer é tirar do projeto, por meio de emendas supressivas, cinco artigos que eliminam a possibilidade de os Estados concederem incentivos fiscais para atrair indústrias.
Segundo especialistas em regimento do Congresso, qualquer modificação de um projeto, seja aditiva ou supressiva, é considerada uma emenda e, por isso, deve voltar à Casa iniciadora.
Regime de urgência
O projeto que elimina o ICMS irá tramitar no Senado em regime de urgência -conforme requerimento do governo aprovado ontem-, ficando a votação final da matéria para amanhã.
O governo vinha rejeitando mudanças no texto aprovado pela Câmara porque provocaria a volta do projeto à Casa.
O argumento utilizado é que a indefinição sobre o assunto está provocando atraso no embarque de mercadorias para o exterior, o que deverá aumentar ainda mais o déficit da balança comercial.
O ministro Antonio Kandir (Planejamento) e as lideranças do governo no Congresso chegaram a negociar com os senadores um acordo pelo qual o projeto seria aprovado na íntegra, e FHC vetaria os cinco artigos relacionados ao fim da guerra fiscal.
Precedente lembrado
No entanto, Sarney propôs um sistema misto de vetos presidenciais e emendas supressivas para eliminar esses artigos.
O presidente do Congresso obteve o apoio de Luís Eduardo, lideranças do governo e do presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado, Íris Resende (PMDB-GO).
"Nós estamos cumprindo a Constituição. Há um precedente na Casa nesse sentido: a primeira reforma tributária que veio ao Senado", afirmou ontem Sarney.
Estratégia questionada
O líder do PT no Senado, José Eduardo Dutra (SE), afirmou que a manobra é inconstitucional e que, caso seja concretizada, o partido irá questionar o assunto junto ao STF (Supremo Tribunal Federal).
"É um entendimento que facilita a tramitação da matéria. Como líder do governo, me agrada. Como senador, me indago", comentou o líder do governo, Elcio Alvares (PFL-ES).

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