São Paulo, quarta-feira, 11 de setembro de 1996 |
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SOS ANTROPOLOGIA Ruth Cardoso já era uma conhecida cientista social antes de tornar-se, aos olhos da mídia e do grande público, primeira-dama. No início da gestão FHC, aliás, "dona Ruth" sentia-se incomodada com o novo papel e fez até certa questão de romper algumas regras tradicionalmente aceitas pelas primeiras-damas. A tal ponto, entretanto, que Ruth Cardoso tornou-se não apenas uma primeira-dama diferente das anteriores, mas a responsável por um dos mais ambiciosos programas de governo, o Comunidade Solidária. Ao abrir o "3º Encontro Ibero-Americano do Terceiro Setor", a primeira-dama fez um balanço do programa e, novamente marcando posição de modo polêmico, minimizou o problema do desemprego no país. Sua argumentação seguiu por dois caminhos. Primeiro, sublinhou que o desemprego no Brasil não é tão alto como em outros países. Segundo, lembrou que há perda de empregos industriais, mas, ao mesmo tempo, criação de novas frentes, em especial no setor de serviços e, num que é particularmente caro ao Comunidade Solidária: o chamado "terceiro setor", as Organizações Não-Governamentais (ONGs) que, privadas, muitas vezes trabalham com o governo como linha auxiliar na oferta de serviços públicos. São argumentos válidos, aliás aceitos por economistas de oposição, como é o caso de Edward Amadeo, professor da PUC-RJ, que acredita que o mercado de trabalho brasileiro não está tão ruim como se imagina exatamente pela maior capacidade do setor terciário brasileiro de acomodar demitidos na indústria, processo que segundo ele não ocorreu na mesma proporção no Chile e na Argentina. São teses, oportunas num bom trabalho acadêmico ou pesquisa empírica. A primeira-dama, entretanto, como boa antropóloga, deveria mostrar-se mais sensível a seu "objeto". Nas atuais circunstâncias, o clima pessimista estimulado pelas taxas irredutíveis de desemprego não é casual. Para os índios dessa tribo, o discurso da primeira-dama é digno do mais clássico etnocentrismo. Próximo Texto: PRIMEIROS FRUTOS Índice |
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