São Paulo, sexta-feira, 13 de setembro de 1996
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Condenação por droga cresce, mas não atinge grande tráfico

ANDRÉ LOZANO
DA REPORTAGEM LOCAL

Duas pesquisas, realizadas em São Paulo e no Rio, apresentadas ontem no seminário "Drogas - Debate Multidisciplinar", mostraram que as condenações por uso e tráfico de drogas aumentaram nos últimos anos.
Apesar disso, segundo a pesquisa, a Justiça só conseguiu prender os pequenos traficantes, não atingindo os principais responsáveis pelo narcotráfico no país.
O encontro, realizado no Memorial da América Latina, em São Paulo, termina hoje.
A antropóloga da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) Alba Zaluar apresentou um trabalho que coordenou na Unicamp (Universidade de Campinas) comprovando que em dez anos as condenações por tráfico de drogas, em Campinas, saltaram de 41%, em 1981, para 85%, em 1991.
A pesquisa analisou processos sobre drogas de quatro das cinco varas criminais da cidade.
O trabalho revelou que 70% das pessoas condenadas por tráfico ou uso de drogas (artigo 16), no período estudado, exerciam profissões de baixa renda.
O estudo mostrou também que a maioria das mulheres presas na região (63,9%), no ano passado, foi condenada por tráfico.
"Esses dados revelam que a Justiça se tornou mais rígida nos últimos anos, mas, no caso das drogas, conseguiu apenas atingir o pequeno traficante ou o dependente, muitas vezes confundido com traficante. Verificamos também que está havendo inserção da mulher no tráfico", disse Zaluar.
Segundo ela, levantamento semelhante realizado entre 1994 e 1995 em 12 varas criminais do Rio mostrou que a maioria dos condenados por tráfico de drogas na cidade (67,2%) não passou do 1º grau.
Em contrapartida, não há registro de condenação por tráfico de pessoas com nível universitário.
"Esses outros dados reforçam que o sistema de repressão de drogas no país é ineficiente porque atinge somente as pessoas da ponta do narcotráfico e não os principais responsáveis"', diz.
"Os pequenos traficantes podem ser substituídos a qualquer momento, sem prejudicar a estrutura poderosa do tráfico internacional de drogas", afirmou a antropóloga.
Transformação das drogas
O sociólogo espanhol e professor de filosofia do direito Antonio Escohotado, considerado um dos maiores especialistas em drogas do mundo, disse ontem que as drogas "naturais", provenientes de plantas, como a maconha, o haxixe, a cocaína e a heroína estão "condenadas à morte".
Segundo ele, essas drogas serão substituídas por entorpecentes sintéticos, com produção descentralizada. Ele avalia que existam hoje cerca de 3.000 variações de drogas no planeta.

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