São Paulo, sexta-feira, 13 de setembro de 1996
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Alta dos juros não muda cenário, dizem analistas

Inflação cai e eleva para 26% o custo do dinheiro

JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A inflação caiu mais dos que os juros em agosto e este mês. O resultado é que a taxa real (o que se paga descontada a inflação) subiu para estúpidos 26% ao ano.
A alta dos juros é matemática. Mas, para os analistas do mercado financeiro, ela é irrelevante.
Irrelevante, para alguns, porque nem o ciclo de produção das empresas nem o horizonte da economia são mensais.
Logo, as oscilações de curto prazo, para cima ou para baixo, não são decisivas. O que importa é a tendência dos juros.
"Se num dia, a inflação instantânea ficasse em 1%, os juros seriam negativos (abaixo da inflação)?", indaga Joaquim Elói Cirne de Toledo, vice-presidente da Nossa Caixa Nosso Banco.
"Seria uma maluquice flutuar os juros junto com a flutuação dos índices de inflação", afirma Rafael Goldenberg, gerente de reais do BBA Creditanstalt.
"Por que quando a inflação sobe temos de pensar em termos anuais e, quando ela cai, no mês?", indaga Sérgio Gabrielli, diretor de Tesouraria do Banco de Boston.
Para todos, o importante não é o juro no dia-a-dia, mas o fato de que as taxas reais (e de juros) são decrescentes. "Foram de 60%, em 94; 35%, no ano passado; e, devem fechar 96 com 13%", diz Gabrielli.
Quebradeira
A alta instantânea é também irrelevante para os críticos da política de juros altos. É que os estragos dos juros não serão produzidos -já foram.
"Essa política já quebrou bancos, já quebrou empresas, já oligopolizou (poucas empresas controlam um determinado mercado consumidor) e internacionalizou a economia desnecessariamente", diz Ibrahim Eris, ex-presidente do BC e, atualmente, sócio da Linear Investimentos.
Eris é mais incisivo: "Não entendo por que não se cobra do governo o sacrifício desnecessário que foi imposto. Nos últimos dois anos, as taxas caíram de 4% para 1,8% e o que aconteceu? Nada. Então, por que não caíram antes?".
Para ele, o governo erra nos juros e errou na condução do reajuste das tarifas públicas.
"Produziram uma volatilidade maluca dos índices", afirma.
A taxa média da Fipe (que mede a variação dos preços em São Paulo) deve fechar, acredita, o ano em 0,9%, mas o índice oscilou entre 0,2% e 1,8%. "É o mesmo que, para uma inflação média de 40%, as taxas oscilarem entre 8% e 88%."
Apesar de considerar que a manutenção de índices de inflação até o final do ano ao redor de 0,5% deve pressionar as taxas para baixo, Eris afirma que o ritmo de queda dos juros projetado no mercado financeiro "é ridículo".
"Se a inflação anual de 97 vai ficar em um dígito, qual é o sentido de os juros mensais do over ficarem em 1,6?", pergunta.
Segundo Eris, nem mesmo a manutenção das reservas internacionais (o caixa do país em moeda forte) serve como argumento.
"Quando as reservas estavam em US$ 40 bilhões achavam exageradas, agora, quando US$ 100 mil saem do país, o mercado fica nervoso."

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