São Paulo, sexta-feira, 13 de setembro de 1996
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Um bom ano 5757 para todos

ISRAEL ISSER LEVIN

Estamos entrando em mais um ano do calendário judaico. Apesar da riqueza de informações que o mundo de hoje propicia, a ignorância e o preconceito ocupam-se em mostrar uma imagem dos judeus de uma maneira deturpada. Em nome da verdade, aproveitamos para trazer alguns esclarecimentos que julgamos ser necessários.
Primeiro povo efetivamente monoteísta da história, os judeus plantaram em terras do Oriente Médio as bases de toda a ética ocidental, seguidos que foram pelos cristãos e pelos muçulmanos em sua preocupação pela ética e pelo respeito ao próximo. A história às vezes prega peças, razão pela qual povos que, no fundo, tinham a mesma crença acabaram se defrontando em nome de um Deus, que, com certeza, não poderia ser favorável a qualquer confronto armado. Mas o importante é sublinhar que as idéias de paz e de fraternidade estão presentes no judaísmo desde a sua base.
O exílio dos judeus, iniciado no ano 70 da era comum, quando os romanos destruíram o Templo de Jerusalém e espalharam o povo por todo o Império Romano, perdurou por muitos séculos. Em todos os lugares, porém, os judeus tiveram a preocupação de transmitir os valores dentro dos quais tinham sido criados e recolher práticas e elementos culturais que consideravam válidos.
Uma coisa com a qual sempre se preocuparam tem sido a idéia da responsabilidade coletiva, ou seja, a obrigação de pensar e agir a favor de todos os membros da comunidade em que viviam, tanto nos bons como nos maus momentos.
No Brasil e em São Paulo em particular, não tem sido diferente. Ao contrário do que muita gente pode pensar, uma parte dos judeus que vivem em nossa cidade é constituída de gente pobre. Pobre, mas não miserável, uma vez que a comunidade desenvolveu uma rede de serviços, que vão da área de educação às de cultura e esportes, da assistência social à médica, de asilos a serviço funerário, também à disposição daqueles que, por alguma razão, têm problemas econômicos que lhes impedem de atender adequadamente seus familiares.
Fiéis aos melhores preceitos bíblicos de responsabilidade coletiva, os brasileiros de origem judaica desenvolveram e mantêm uma série de instituições voltadas ao bem-estar geral da população, independente de sua origem, coordenadas pela Federação Israelita do Estado de São Paulo.
Este não é o local nem o espaço para fazer um relatório das atividades realizadas pelas instituições judaicas, mas vale dar alguns exemplos para que nossas afirmações não pareçam levianas.
O Hospital Israelita Albert Einstein, um dos melhores do país, possui um serviço de atendimento a pacientes carentes da região que, só no último ano, atendeu 14.591 casos de pediatria e 6.511 urgências, recebeu 17.150 pacientes/dia, efetivou 112.591 exames complementares, tudo isso de forma gratuita.
O Ciam (Centro Israelita de Atendimento ao Menor) educa crianças e jovens portadores de deficiências mentais e está acabando de construir a Aldeia Esperança, que logo estará abrigando mais cerca de 120 jovens e adultos com a mesma limitação. A Unibes (União Israelita do Bem-Estar Social), tradicional instituição localizada no Bom Retiro, atende 385 crianças de 2 a 14 anos de idade em regime de semi-internato e, em termos de complementação educacional e recreação, também assiste 646 famílias na área de saúde física e mental.
Por que é que entidades judaicas (e as citadas acima são só um exemplo, muitas outras mereceriam registro) desenvolvem todas essas atividades? Porque elas julgam que estão no seu papel, como, aliás, deveriam agir todos aqueles efetivamente preocupados com os seus semelhantes. Queremos um mundo melhor e lutamos por ele.
Um bom ano 5757 para todos.

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