São Paulo, sexta-feira, 13 de setembro de 1996
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INFLAÇÃO ZERO

A deflação de 0,04% constatada pelo IPC-RJ (Índice de Preços ao Consumidor para o Rio de Janeiro) e a variação de imperceptíveis 0,004% no IGP (Índice Geral de Preços) em agosto equivalem a uma inflação zero. Por mais que não se espere que os preços tenham parado, não se pode ignorar o simbolismo desses resultados. Afinal, há pouco mais de dois anos, a inflação era de 50% ao mês.
Nos últimos 12 meses, os preços ao consumidor subiram cerca de 14%, pouco mais ou menos, em distintas regiões e segundo diferentes institutos de pesquisa. Nos índices mais gerais, que incluem também preços de atacado e da construção civil, a variação nesse mesmo período foi ainda menor, aproximadamente 10%. E as expectativas são de que a inflação continue em queda.
Examinados em maior detalhe, porém, esses resultados altamente favoráveis na estabilização dos preços apontam também para fenômenos não de todo positivos. A pequena deflação registrada no Rio de Janeiro deveu-se fundamentalmente à queda de preços competitivos, como alimentação e vestuário, indicando que o nível de atividade não é dos mais elevados. Preços em queda são um sinal de consumo arrefecido.
Em certo sentido, tais índices servem como ilustração do ambiente econômico atual: amplo sucesso no combate à inflação ao lado de uma situação mais difícil para parte dos produtores e, evidentemente, para os desempregados. É preciso, sem dúvida, reconhecer o imenso valor da queda da inflação. Mas não se pode deixar de ter em conta o custo social da desaceleração econômica.
A grande prova do Plano Real será assegurar a estabilidade dos preços minimizando o arrocho sobre os setores produtivos. Certamente não é tarefa fácil. Mas, como mostra a forte insatisfação na Argentina e a queda de popularidade de seu governo, conformar-se diante desse desafio é um caminho sem futuro.

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