São Paulo, domingo, 15 de setembro de 1996
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Brasil perdeu 2 milhões de empregos

FERNANDO RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O Brasil perdeu 2,060 milhões de empregos formais nos anos 90, conforme dados obtidos pela Folha no Ministério do Trabalho.
O levantamento é inédito. Mostra que as empresas no país contrataram 52,508 milhões de trabalhadores de janeiro de 90 a junho deste ano. No mesmo período, demitiram 54,568 milhões.
A diferença desses dois números é que resulta nos 2,060 milhões de vagas de trabalho suprimidas.
O número fica mais assustador quando se observa que o mercado de trabalho continuou a receber uma avalanche de mão-de-obra todos os anos.
A PEA é o conjunto dos brasileiros residentes no país que estão aptos ao trabalho. A população total é hoje de 158,3 milhões.
Com esse aumento de 9.670.460 trabalhadores na PEA, além dos 2,060 milhões de empregos cortados, é correto afirmar que o mercado informal recebeu uma massa de aproximadamente 11,7 milhões de pessoas ao longo dos anos 90.
Essa quantidade de gente supera com folga a população combinada de Paraguai e Uruguai.
São brasileiros que podem até gerar renda, mas que não pagam impostos nem seguridade social. Seja por estarem na informalidade ou desempregados.
Apesar disso, continuam a usufruir de benefícios públicos como o SUS (Sistema Único de Saúde), pois a Constituição de 88 liberou o serviço de saúde gratuito para todos os brasileiros.
Abrangência dos dados
Os dados do Ministério do Trabalho são coletados mensalmente desde 1965. A lei 4.923, daquele ano, obriga a todas as empresas do país a informar quando demitem e contratam alguém.
Os números que a Folha publica hoje são a parte preliminar desse levantamento. Embora algumas empresas possam sonegar informações, é relativamente alto o índice de adesão.
"Temos os dados referentes a pelo menos 80% dos empregos formais no país", diz Daniel Oliveira, secretário de Política e Emprego do Ministério do Trabalho.
Oliveira diz que o ministério recebeu em junho, data dos dados mais recentes, informações de contratações e demissões em 324.531 empresas de todo o país.
Desse total, 110.831 empresas eram do Estado de São Paulo, o que demonstra que os paulistas são os campeões disparados nas alterações de postos de trabalho.
Não existe consenso sobre quais são as razões para tanta diminuição do emprego formal no país. Especialistas apontam algumas causas básicas.
Abertura da economia, entrada de produtos importados, novas tecnologias e custos de mão-de-obra formalmente contratada são apontados como as causas mais comuns para a queda do número de pessoas com carteira de trabalho assinada.
O ministro do Trabalho, Paulo Paiva, costuma citar uma outra razão. A redistribuição espacial do emprego -de um setor para outro e de uma região para outra do país.
Por exemplo, o computador tirou muitos empregos de bancários. Mas deu empregos a muita gente no setor informal, "pois é comum hoje haver técnicos especializados em reparar ou montar micros em casa", diz Paiva.
Outro exemplo é a composição dos trabalhadores por setor. Em 90, os trabalhadores da indústria respondiam por 15,2% dos empregos formais. Hoje, esse percentual caiu para 12,3%.
No caso do setor de serviços, 17,9% dos trabalhadores com carteira assinada em 90 estavam nessa categoria. Hoje, o percentual subiu para 19,1%.
"Só que essa transferência não é automática. O empregado da indústria não foi necessariamente para o setor de serviços. Por isso caiu o emprego formal, mas não o nível de ocupação", diz Paiva.
No ano passado, a taxa de desemprego média registrada pelo IBGE foi de 4,64%, nas seis maiores regiões metropolitanas do país. Neste ano, a taxa média até junho foi de 5,87%.

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