São Paulo, domingo, 15 de setembro de 1996
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Álcool mata mais do que o crack em SP

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO; AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Consumo de bebida alcoólica é responsável pela maior parte de mortes não-naturais, de homicídios e acidentes

Nenhuma droga mata mais do que o álcool. Nem mesmo o crack, vilão escolhido pela polícia para explicar o aumento da violência em São Paulo.
Quem afirma são especialistas que lidam diariamente com o consumo de drogas e com as causas de mortes na cidade.
"Em termos de drogas, não tem nada que mate mais do que o álcool", diz o médico Marcos Drumond, integrante de um programa da prefeitura paulistana voltado às estatísticas sobre mortalidade.
"O álcool é mais danoso hoje à sociedade, embora o crack seja mais danoso ao usuário em si", afirma o psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, coordenador do Proad, um programa de assistência a dependentes.
Suas opiniões estão embasadas em dados. Levantamento do Cebrid, centro de informações sobre drogas da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), mostra que 95% dos corpos que chegam ao Instituto Médico Legal -vítimas, portanto, de morte não-natural- tinham álcool no sangue.
O alcoolismo e as doenças correlacionadas já são a 13ª causa de morte em São Paulo. Entre homens, chegam ao 9º lugar e, na faixa dos 40 aos 49 anos, sobem para o 7º posto.
Causa indireta
Não bastassem as mortes diretamente relacionadas com o consumo abusivo de bebidas alcoólicas, há ainda as que são indiretamente provocadas pelo álcool.
Segundo a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego, motoristas alcoolizados provocaram 76,6 mil acidentes com vítimas no ano passado. O número de mortes passaria dos 7.000.
Em São Paulo, os acidentes de trânsito são uma das principais causa de morte. Perdem para a Aids e para os homicídios, dois grupos que, segundo os médicos, também estão relacionados ao consumo de álcool.
Pesquisa feita pelo Núcleo de Estudos da Violência da USP mostra que 7,6% dos assassinatos ocorridos nos 14 distritos mais violentos de São Paulo foram consequência de brigas em bares.
O estudo indica ainda que mais 27,6% dos homicídios foram provocados por outros tipos de briga, que têm grande chance de estar relacionados ao álcool.
O tráfico de drogas, por sua vez, foi a razão de 11,7% dos assassinatos. Os danos do crack, na maioria dos casos, são contra o próprio usuário. Pesquisa da Unifesp com 103 dependentes mostrou que 13 deles morreram em dois anos -7 assassinados, 4 por Aids e 1 por overdose.
"Em comparação com outras drogas, como o fumo, o álcool parece ser protegido. Fala-se muito pouco de seus prejuízos à saúde e das mortes que ele causa", afirma o médico Drumond.
Estudo feito por Ilana Pinsky, da mesma Unifesp, mostrou que bebidas alcoólicas estão entre os produtos mais anunciados no horário nobre das TVs. Os especialistas defendem algum tipo de controle sobre a venda e a propaganda de álcool, especialmente aos jovens.
No Proad, detectou-se que os problemas com bebidas alcoólicas começam aos 12 ou 13 anos. Mas há casos de crianças de 8 anos.

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