São Paulo, domingo, 15 de setembro de 1996 |
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'Custo ABC' muda a economia da região
FÁBIO ZANINI
Enquanto isso, no setor de serviços, essa fração foi ampliada de 25% para 36% e no comércio, de 12% para 15%. O responsável por esses indicadores já tem nome: "custo ABC", ou uma série de fatores regionais que, aliados à conjuntura econômica nacional, prejudica a atuação das indústrias e dificulta o crescimento do setor. O "custo ABC" inclui a defasada infra-estrutura de transportes, a valorização da mão-de-obra, o alto custo de vida e a saturação demográfica da região. O resultado é que o principal pólo industrial brasileiro tem assistido à fuga de grandes indústrias para o interior e outros Estados e à queda vertiginosa do nível de emprego, principalmente nos setores metalúrgico e químico. Metalúrgicas como a Villares (4.000 funcionários), Eaton (400), ZF do Brasil (1.100) e Brasinca (2.500), além de outras de menor porte, deixaram a região levando empregos, impostos e renda. Ao mesmo tempo, a região foi ignorada pelas montadoras, que resolveram construir novas fábricas (caso da Volkswagen, que preferiu Resende, no Rio) ou se instalar no país (caso da Renault, que escolheu o Paraná). "Produzir no ABC é de 15% a 20% mais caro que no interior. Os impostos são altos e a pressão sindical encarece o custo da mão-de-obra", afirmou José Carlos Martins, presidente da Villares. A empresa está desativando, até o final do ano, uma unidade em São Caetano, que empregava 4.000 trabalhadores, com salário mensal médio de R$ 2.200. Em Sumaré, para onde a fábrica foi transferida, 300 pessoas fazem o mesmo trabalho com salário médio de R$ 2.000. Serviços arrecadam mais Mesmo com a saída de indústrias, a região detém 15,1% da economia do Estado (13,4% em 1990). Segundo levantamento da Secretaria de Planejamento de Santo André, a arrecadação da indústria na região do ABC permaneceu estável entre 1988 e 1995, ficando na casa de R$ 1,8 bilhão por ano, em valores atualizados. No mesmo período, porém, a arrecadação no setor de serviços saltou mais de 13 vezes -indo de R$ 9,6 milhões em 1988 para R$ 130 milhões no ano passado. "Os serviços crescem porque o mercado consumidor é forte. A mão-de-obra sempre foi bem remunerada", diz Flávio de Sousa, presidente da Associação Comercial-Industrial de São Caetano. O reforço do setor de serviços contou com a chegada de empresas de porte grande, como a rede de lojas de departamentos norte-americana Wal-Mart (que investiu R$ 150 milhões no ano passado), e a abertura de shopping centers. "Sem indústria forte, não há comércio forte. O setor terciário, apesar de estar crescendo, absorve apenas parte da mão-de-obra liberada e, ainda assim, com salário menor", disse Luiz Marinho, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (filiado à CUT). Em um ano, Marinho viu o número de trabalhadores em sua base cair de 140 mil para 124 mil. "O 'custo ABC' está na falta de investimentos públicos em transporte, moradia, educação e na guerra fiscal que outras regiões promovem e que torna o ABC desinteressante", considera Marinho. Para Maria do Carmo Romeira, coordenadora do instituto de pesquisa do Imes, órgão regional que faz análises sócio-econômicas do ABCD, "o salário da região é alto, mas o custo de vida também". Texto Anterior: Fundos tendem à especialização Próximo Texto: Comércio vive 'boom' Índice |
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