São Paulo, domingo, 15 de setembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Estrangeiros fazem 'decisão dos gestos'

SÉRGIO KRASELIS
DA REPORTAGEM LOCAL

O técnico Ricardo Navajas adotou a "linguagem" das mãos para se comunicar com os astros estrangeiros do Report/Suzano, principalmente o meio-de-rede norte-americano Bryan Ivie, 27.
O clube, um dos finalistas do Campeonato Paulista Masculino de Vôlei da temporada 96, contratou o jogador em junho último, mas ele só chegou para treinar em agosto, logo após os Jogos Olímpicos de Atlanta.
Ivie, que vê duas aulas de português por semana, tem no técnico Navajas um instrutor especial.
Como Navajas não fala inglês e Ivie ainda não consegue conversar em português, os dois passaram a se comunicar através de gestos durante os treinos e jogos da equipe.
Por exemplo: quando quer que Ivie jogue uma bola alta na ponta da rede, Navajas faz um "L" com o polegar e o indicador.
Se deseja que o jogador proceda como se fosse cortar uma bola no meio da rede, o treinador ergue apenas o dedo mínimo.
"A linguagem do vôlei é universal. Se preciso falar com ele, recorro ao Marcelo (levantador do time), que sabe inglês muito bem", diz Navajas.
Outro que ainda sofre com as instruções é o russo Olikhver, mas um pouco menos do que Ivie.
Como atuou na Itália, o meio-de-rede, que cumpre a sua segunda temporada no time de Suzano, mistura palavras em italiano e português.
"Português, muito difícil", diz Olikhver, que fica completamente atrapalhado quando precisa fazer a conjugação dos verbos.
O atacante Giovane, que também veio para o clube este ano, tem procurado ajudar os dois estrangeiros do time.
"Eu joguei na Itália e tive muita dificuldade de comunicação. A gente sofre muito no início, mas acaba aprendendo tudo na marra", conta o atacante.
Navajas diz que às vezes se esquece que o norte-americano não sabe português. "Falo rápido demais e agora, quando quero falar com ele, preciso lembrar de usar as mãos", diz Navajas.
Gozação
Como não domina o idioma, o norte-americano é o alvo predileto das brincadeiras.
Na última quarta-feira, enquanto se submetia a um tratamento de tendinite no joelho direito, Ivie estudava uma apostila quando se deparou com o pronome "lhe". Quis saber o significado da palavra.
"What's lhe?", perguntou ao técnico Navajas.
Rindo, o treinador explicou pausadamente, utilizando as mãos, que não era preciso "saber tanto". Socou o peito do jogador e disse: "Vencer sempre, vencer sempre, vencer sempre. É tudo o que você precisa aprender."

Texto Anterior: Copa Davis no Brasil terá 4 mil lugares
Próximo Texto: Olympikus joga hoje pelo título
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.