São Paulo, domingo, 15 de setembro de 1996 |
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Norte da Itália declara independência hoje
RAUL MOREIRA
A declaração simbólica da independência será feita em Veneza durante um comício que deverá reunir milhares de pessoas. Apesar de a maioria dos italianos da Lombardia, onde nasceu o movimento -62%, segundo pesquisa do jornal "La Reppublica"-, considerar a idéia da criação da Padânia um delírio, todas as atenções estarão voltadas para Veneza, onde Bossi vai anunciar o regimento do "novo Estado". Segundo os separatistas, a "oficialização" da Padânia será pacífica, mas o governo destacou policiais para a região, temendo conflitos entre manifestantes contrários e "camisas verdes", uma espécie de brigada da Liga Norte. Desde anteontem, uma caravana de manifestantes percorre os 652 km do rio Pó, região conhecida como planície da Padânia. Na madrugada de sábado houve confronto entre separatistas e manifestantes de esquerda em Turim. Trinta pessoas ficaram feridas. Um grupo desconhecido reivindicou uma tentativa de incendiar a sede da Padânia e um centro recreativo dos neofascistas da Aliança Nacional em Veneza. Argumentos O principal argumento separatista de Bossi é que a região norte, responsável por 70% do PIB italiano, acaba prejudicada pela centralização administrativa de Roma. Bossi se baseia no fato de a região norte não receber, proporcionalmente em benefícios, a quantidade de impostos destinados a Roma. O líder separatista acusa o governo central de fechar os olhos para o desvio e a má utilização de verbas públicas praticada pelos políticos do sul, região mais pobre da Itália e marcada pela presença da Máfia. O ideal separatista é também de natureza étnico-cultural. A região sul, assim como a central, é formada em grande parte por latinos e árabes, ao contrário do norte, de característica centro-européia. Apesar de dominar há vários meses o noticiário político, o movimento de criação da Padânia ganhou mais um caráter alegórico do que propriamente separatista. Pesquisas Apenas 26% dos italianos da Lombardia, segundo o "La Reppublica", levam o movimento a sério. O índice cai para 7% em outras partes da região norte. Os italianos temem que o ideal separatista de Bossi possa levar o país a uma situação semelhante à da extinta Iugoslávia. Cerca de 80% dos italianos do norte preferem o federalismo como forma de governo, o que, dizem, seria mais justo para as regiões mais ricas. O governo italiano tenta minimizar a manifestação de hoje, mas são cada vez maiores os sinais de preocupação emitidos pelo presidente Oscar Luigi Scalfaro. O discurso de Bossi é garantido pela sua imunidade parlamentar, mas as autoridades advertem que, se a manifestação se transformar em ações concretas, Bossi e seus seguidores serão enquadrados na Lei de Segurança Nacional. A Igreja Católica também não vê com bons olhos a manifestação de hoje mas, independentemente do caráter da manifestação, já é consenso entre as principais forças políticas da Itália a irreversibilidade de uma mudança no sistema de governo. Texto Anterior: Taiwan pede redução de investimentos Próximo Texto: Liga é o quarto partido italiano Índice |
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