São Paulo, segunda-feira, 16 de setembro de 1996
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Cidade pode se transformar em exportadora de mão-de-obra

JOSÉ ROBERTO DE TOLEDO
DA REPORTAGEM LOCAL

Desde a última eleição municipal, a renda das pessoas ocupadas na Grande São Paulo aumentou cerca de 50%, se medida em salários mínimos. A escolaridade média também evoluiu, de 6,1 para 6,5 anos de estudo.
São duas condições necessárias à melhoria da oferta de mão-de-obra na cidade e, por consequência, ao avanço da competitividade das empresas. Condições necessárias, mas não suficientes.
A transformação do mercado de trabalho paulistano nos anos 90 não tem acompanhado a mesma tendência dos indicadores de educação e renda.
O emprego formal perdeu espaço para as ocupações sem carteira assinada e para o trabalho por conta própria -bicos e serviços de marreteiro.
Mesmo no mercado onde os empregadores registram seus funcionários, a qualidade dos postos de trabalho oferecidos caiu. A maior oferta é de empregos para trabalhadores braçais.
É o que os especialistas da Função Seade, do governo paulista, batizaram de "precarização" do mercado de trabalho. Reverter essa tendência será um dos principais desafios do próximo prefeito.
Em números: desde o Plano Real, nas 15 profissões ou funções em que mais se abriram postos de trabalho em São Paulo, o salário médio dos contratados não chega a três salários mínimos: R$ 293,81.
É inferior à renda média das pessoas economicamente ativas (ocupadas ou procurando emprego) da região metropolitana no ano da última eleição municipal, 1992.
É fácil entender a razão quando se analisa os dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados do Ministério do Trabalho.
Desde a implantação do real, há dois anos, foram abertas na cidade 20,8 mil novas vagas para trabalhadores braçais não-classificados, a R$ 270,00 por mês.
No mesmo período, foram fechadas os postos de trabalho de 11,5 mil chefes intermediários, que ganhavam R$ 1.041,00 no mês em que foram demitidos.
Esse último caso reflete o processo de enxugamento de pessoal por que passaram as empresas nos últimos anos, em busca de um nem sempre alcançado aumento de competitividade. Mas o corte de vagas não parou.
Analisando-se as 48 profissões que tiveram mais empregos fechados do que abertos, percebe-se um grande enxugamento dos profissionais de nível médio e superior.
São os casos dos engenheiros (menos 1.040 vagas), economistas (menos 2.093) e analistas de sistemas (menos 1.087).
Soma-se a isso a desindustrialização. Só na usinagem de metais, foram fechadas 9.805 vagas em dois anos. Postos de trabalhadores especializados na indústria têxtil foram cortados outros 6.950.
Por essas razões, mais do que fabricar empregos, o novo prefeito deveria traçar um plano de desenvolvimento estratégico. E atrair investimentos que criem oportunidades de serviço bem remunerado, para moradores com maior escolaridade.
Caso contrário, São Paulo pode se transformar de um pólo atraente de trabalhadores em uma cidade exportadora de mão-de-obra.

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