São Paulo, segunda-feira, 16 de setembro de 1996
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Ainda falta lampejo ao renascido Corinthians

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Desconfio que o amigo corintiano não estaria ostentando esse sorriso de vitória se o Bragantino não terminasse o jogo com 9 jogadores contra 11. Não porque o gol decisivo de Tiba surgiu no finalzinho, após a segunda expulsão (ambas, rigorosamente justas, por sinal), mas, sobretudo, porque o embate estava parelho, até aquele instante, e o empate de 2 a 2 refletia o que acontecia em campo: um jogo carregado de eletricidade, com muita estática e quase nenhum lampejo.
E é isso que está faltando a esse Corinthians que renasceu das cinzas, mais por devoção do que por reflexão. Além, claro, de um ataque arrasador, embora Tiba vá cumprindo sua sina de artilheiro e Alcindo esteja sendo de extrema utilidade no combate atrás e nos deslocamentos na frente.
É bem verdade que faltou o talento, ainda intermitente, de Souza, um jogador que alterna jogadas de extrema sofisticação e singular engenho com longos períodos de abulia.
E é aqui que entra em cena Marcelinho. Trata-se de um craque, habilidoso e inteligente, abençoado com um disparo de direita que já entrou na história do nosso futebol.
Se descartarmos todos os seus gols de falta, pênalti, olímpico e com a bola rolando, veremos que Marcelinho estará na origem direta de quase todos os demais marcados pelo Corinthians nestes últimos anos. Seus cruzamentos e passes são tão letais como seus morteiros.
Mas, na aflição da bola correndo, no vaivém incessante da marcação à armação de jogadas, Marcelinho costuma ter uma participação discreta.
Já houve um tempo em que julguei possível espalhar seu talento pelo meio-campo, mais ou menos como seu jovem-velho parceiro de Flamengo, Djalminha, faz no Palmeiras. Começo a desconfiar que é malhar em ferro frio.
Logo, se falta alguém de maior precisão no tiro lá no front, e Marcelinho move-se à meia-força aqui atrás, que o técnico Espinosa o libere, encostando-o a Tiba no ataque e rearmando o meio-de-campo com alguém que possa, ao lado de Souza, articular as jogadas.
*
As mesmas vozes que clamam hoje contra a vinda de Viola, há muito pouco tempo, agouravam a volta de Rincón ao Palmeiras. Pela mesma razão: incompatibilidade com a torcida.
Pois bem, quem viu Rincón ontem em campo, como o centro das ações mais lúcidas e brilhantes do seu time contra o Juventude, e saindo de campo, no intervalo, reverenciado pela galera, teve de meter a viola no saco.
Pelo menos, no primeiro tempo, quando o Palmeiras meteu 2 a 0 no Juventude e poderia esticar esse placar ao dobro, no mínimo.
No segundo, apesar de uma indecisão no início, quando o adversário reduziu a diferença, fez 3 a 1, criou uma infinidade de chances trançadas com irreverência e até fortes doses de irresponsabilidade.

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