São Paulo, quarta-feira, 18 de setembro de 1996
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Taxas de juros

ANTONIO DELFIM NETTO

Há duas semanas publicamos neste mesmo espaço algumas considerações sobre a taxa de juros que despertaram a atenção de alguns leitores que nos honram com sua atenção. O que eles querem saber é qual a perspectiva do juro nos próximos 6 ou 12 meses, o que evidentemente é difícil.
Os eventos mais recentes mostram que as perspectivas para o rendimento dos papéis federais no horizonte dos próximos meses são de uma relativa estabilidade, em torno de 1,8%/1,9% ao mês.
Com esse juro básico e mantidas as condições atuais de regulamentação do mercado financeiro, dificilmente se pode esperar uma redução importante da taxa de juro real paga pelo setor privado. E todos sabemos que são essas altíssimas taxas que estão tornando inadimplentes tanto os clientes como os seus banqueiros.
Uma das razões pelas quais a recuperação do nível de atividade tem sido mais tênue do que se esperava e tem prosseguido a ampliação do desemprego quando estacionalmente ele deveria estar diminuindo está ligada a esse fato.
Como a taxa básica ameaça ficar no mesmo patamar atual e há poucos sinais de uma mudança importante na regulamentação financeira (depósitos compulsórios) que constitui um mecanismo de tributação do sistema bancário, é muito pouco provável que assistamos no futuro próximo a uma redução do juro nominal cobrado pelos bancos para as pequenas e médias empresas nacionais.
O pior é que com a inflação declinante (em função da baixa atividade e do desemprego) isso significa que corremos o risco de ver aumentado o juro real.
O quadro é um pouco mais preocupante porque há indícios de que a economia americana se aproxima perigosamente do que o Fed considera uma situação de "pleno emprego", a partir da qual ele sugere que começam a acumular-se pressões para a elevação dos salários reais acima da produtividade, o que, num prazo de 6 a 12 meses, produz uma elevação da taxa de inflação.
Em outras palavras, um dos indicadores antecedentes da taxa de inflação é a elevação do custo do trabalho por unidade do produto.
Por outro lado um outro importante indicador antecedente do Fed é o comportamento da taxa de juros de longo prazo. Alguns estudos mostram com clareza que o Fed vê na elevação da taxa de juros de longo prazo um aumento das expectativas inflacionárias -e o que é mais grave-, uma deterioração da sua credibilidade na luta contra a inflação.
Estudos empíricos mostram que a taxa de juros de longo prazo formada no mercado é mesmo um dos fatores importantes na determinação pelo Fed da taxa de juros de curto prazo.
Isso significa que há razoável probabilidade de que em breve, ou logo depois das eleições nos EUA (5 de novembro), vejamos o Fed corrigir para cima sua taxa de juros de curto prazo, o que reforça a idéia de que nossa taxa básica não ficará muito abaixo da atual.
A única esperança, portanto, de uma redução significativa das taxas de juros pagas pelo setor privado reside numa redução da tributação implícita (os compulsórios) que incide sobre o sistema bancário.

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